Descarte polêmico: por Que o Brasil ainda prefere o lixo ao vaso sanitário para o papel higiênico?


A cena é comum em muitos banheiros brasileiros: uma lixeira repleta de papel higiênico usado, algo que pode causar estranheza em turistas de outros países. Mas, afinal, por que essa prática ainda é tão difundida no Brasil, enquanto em grande parte do mundo o descarte no vaso sanitário é a norma? A resposta envolve uma combinação de fatores que vão desde a qualidade do papel até as características da infraestrutura de saneamento básica do país.
Como apontou recentemente uma reportagem da Globo (https://glo.bo/h35pvcv), a recomendação para não jogar o papel higiênico no vaso sanitário no Brasil se deve principalmente à qualidade e à resistência do papel produzido localmente. Diferentemente dos papéis utilizados em países com sistemas de esgoto mais robustos, o papel higiênico brasileiro tende a ser menos solúvel em água. Essa característica, aliada a diâmetros de tubulação e sistemas de tratamento de esgoto nem sempre otimizados, aumenta significativamente o risco de entupimentos nas redes de coleta e nas estações de tratamento.
Essa preocupação com entupimentos não é infundada. O descarte inadequado de papel higiênico pode gerar sérios problemas nas residências e nas redes públicas, causando refluxos, mau cheiro e até a necessidade de intervenções custosas. Além do papel, outros itens como absorventes, fraldas e embalagens jamais devem ser descartados no vaso, pois estes sim são grandes vilões dos sistemas de esgoto.
Segundo especialistas, essa cultura de descarte no lixo também está relacionada com a infraestrutura de saneamento no Brasil, que ainda enfrenta desafios significativos. Embora tenha havido avanços nos últimos anos, uma parcela considerável da população ainda não tem acesso à coleta de esgoto, dependendo de fossas sépticas. Nesses casos, o acúmulo de papel pode prejudicar o funcionamento da fossa e exigir manutenções mais frequentes.
Um estudo recente revelou que o papel higiênico descartado no vaso sanitário pode levar mais de 100 anos para se desintegrar em aterros sanitários, caso o sistema de esgoto não funcione corretamente e o resíduo acabe indo para esses locais. Essa informação reforça a importância de um descarte consciente, mesmo que seja na lixeira.
Apesar da recomendação geral, é importante ressaltar que nem todos os papéis higiênicos são iguais, e alguns fabricantes já oferecem opções mais finas e de rápida dissolução. Além disso, em locais com infraestrutura moderna e bem conservada, o risco de entupimento pode ser menor. No entanto, a orientação predominante no Brasil ainda é a de utilizar a lixeira para o descarte do papel usado.
Essa prática, embora funcional, levanta questões sobre higiene e odores, especialmente em ambientes com pouca ventilação. Para minimizar esses inconvenientes, recomenda-se o uso de lixeiras com tampa e a troca frequente do saco de lixo.
Em outros países, como nos Estados Unidos e em grande parte da Europa, a cultura e a infraestrutura são diferentes. Os papéis higiênicos são projetados para se desfazerem rapidamente em contato com a água, e os sistemas de esgoto são dimensionados para lidar com esse material. Essa diferença cultural e estrutural explica a estranheza de muitos estrangeiros ao se depararem com a lixeira de papel nos banheiros brasileiros.
Em suma, a recomendação de não jogar papel higiênico no vaso sanitário no Brasil é uma medida preventiva, baseada nas características do papel e nas limitações da infraestrutura de saneamento. Embora possa parecer incomum para alguns, essa prática visa evitar problemas mais graves de entupimento e garantir o bom funcionamento dos sistemas de coleta e tratamento de esgoto.

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