EJA e ensino noturno sob ameaça: movimento na SEED pode acabar com modalidades presenciais

Denúncias apontam para estratégias do governo estadual que visam esvaziar turmas presenciais e priorizar o ensino online, gerando preocupação entre educadores e estudantes.

A Educação de Jovens e Adultos (EJA) e o ensino noturno, modalidades essenciais para milhões de brasileiros que buscam concluir seus estudos, estão sob ameaça no estado. Relatos de professores e denúncias em redes sociais indicam um movimento dentro da Secretaria de Estado da Educação (SEED) para reduzir ou extinguir essas modalidades presenciais, substituindo-as por um sistema de provas online. A medida, criticada por especialistas e educadores, pode impactar diretamente o acesso à educação de jovens, adultos e trabalhadores que dependem desses turnos para conciliar estudos e trabalho.

Estratégias questionáveis e denúncias de irregularidades

Segundo o professor Alexandre Orsini, em postagem no grupo de Facebook “Denúncias Contra a Secretaria de Educação”, há uma pressão para que escolas matriculem alunos na EJA online sem a devida autorização dos pais ou responsáveis. Ele relata que diretores estão sendo obrigados a informar ao Núcleo Regional de Educação (NRE) quais famílias não aderiram ao sistema online, prática considerada irregular e até criminosa. “É vergonhoso ver educadores contribuindo com essas práticas corruptas”, afirma Orsini.

Além disso, o professor denuncia a criação de um “sisteminha de provas online” para aprovar alunos da EJA sem a necessidade de aulas presenciais, o que poderia esvaziar as turmas presenciais e desqualificar a modalidade. A falta de transparência também é destacada: Orsini solicitou a instrução normativa do Departamento de Ações Pedagógicas (DAP), mas não obteve resposta, levantando suspeitas sobre a legalidade das medidas.

Impacto na educação e na sociedade

A EJA e o ensino noturno são fundamentais para garantir o direito à educação de jovens e adultos que não tiveram acesso à escolarização na idade adequada. No estado de São Paulo, por exemplo, quase 12 milhões de pessoas são elegíveis para a EJA, mas a oferta de vagas tem caído drasticamente. Entre 2020 e 2023, houve uma redução de 61,9% nas matrículas presenciais da EJA, com o fechamento de 1.945 turmas, a maioria no período noturno.

Especialistas alertam que a substituição do ensino presencial pelo online pode agravar as desigualdades educacionais. “A EJA presencial é essencial para acolher estudantes em situação de vulnerabilidade, como migrantes, refugiados e pessoas com deficiência. O ensino online não consegue atender às necessidades específicas desse público”, explica Maria Clara Di Pierro, professora da Faculdade de Educação da USP.

Resistência e mobilização

Diante das denúncias, educadores, estudantes e movimentos sociais têm se mobilizado para defender a manutenção das modalidades presenciais. Em São Paulo, comunidades escolares realizaram protestos contra o fechamento de turmas noturnas e da EJA, destacando a importância dessas modalidades para a inclusão social e o combate ao analfabetismo.

A situação também tem chamado a atenção do Ministério Público. Organizações da sociedade civil e universidades encaminharam representações pedindo a reversão das medidas e a ampliação das políticas de apoio à EJA. “O fechamento de turmas e a transferência de alunos para unidades distantes violam o direito à educação e aumentam o risco de evasão escolar”, afirma Fernando Cássio, professor da USP.

Enquanto o governo estadual justifica as mudanças como uma “reorganização da rede”, educadores e especialistas veem nas medidas um desmonte da educação pública. A priorização do ensino online em detrimento do presencial pode excluir milhares de estudantes que dependem dessas modalidades para concluir seus estudos e melhorar suas condições de vida. A mobilização da sociedade civil e a pressão sobre as autoridades são fundamentais para garantir que o direito à educação seja preservado.

Fontes:

  • [Denúncias Contra a Secretaria de Educação – Facebook]
  • [Redução de vagas na EJA em São Paulo]
  • [Fechamento de turmas noturnas e EJA]

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