A Ministra da Infância e Juventude da Islândia, Ásdís Rán Jónasdóttir, anunciou sua renúncia na quarta-feira, após admitir publicamente que, aos 27 anos, manteve um relacionamento com um adolescente de 16 anos, com quem teve um filho há três décadas. O caso, que permaneceu em sigilo até agora, provocou um terremoto político no país conhecido por ser pioneiro em igualdade de gênero e proteção aos direitos das crianças.
Em entrevista coletiva, Jónasdóttir, de 57 anos, reconheceu que “as escolhas do passado podem ter consequências imprevistas” e afirmou que, só recentemente, compreendeu “a complexidade ética” de sua relação com o jovem na época. “Hoje, como figura pública responsável por políticas para menores, entendo que meu histórico contradiz os valores que defendi. Por isso, decido me afastar”, declarou.
A revelação gerou debates acalorados na mídia islandesa e nas redes sociais. Críticos apontam a hipocrisia de uma autoridade encarregada de combater abusos contra menores ter um passado que, segundo leis atuais, configuraria crime de estupro estatutário (a idade de consentimento no país é 15 anos, mas relações com desequilíbrio de poder podem ser criminalizadas). Defensores da ministra argumentam que o caso deve ser analisado sob o contexto da época, já que, nos anos 1990, a discussão sobre dinâmicas de poder em relações intergeracionais era menos frequente.
O primeiro-ministro Bjarni Benediktsson aceitou a renúncia, classificando o episódio como “uma lição sobre a necessidade de transparência na vida pública”. A oposição, porém, exige investigações sobre possíveis omissões em sua nomeação em 2021, já que o filho fruto do relacionamento teria sido registrado com o sobrenome do pai biológico, mantendo o vínculo discreto.
O escândalo reacendeu discussões sobre a dissonância entre a imagem progressista da Islândia — líder no Índice Global de Igualdade de Gênero há 14 anos consecutivos — e casos não resolvidos de abuso de poder. Especialistas em ética política destacam que, embora não haja indícios de ilegalidade no passado da ministra, a percepção pública de incoerência tornou sua permanência insustentável.
Enquanto a sociedade islandesa se divide entre cobrança por accountability e defesa da privacidade de decisões pessoais antigas, o caso deixa uma pergunta no ar: até que ponto o passado de um líder deve ditar seu futuro na política?
— Com informações de agências locais e arquivos públicos.