Ex-secretário rebate Trump: ‘Barriga de aluguel’ do Brasil para a China é inviável, diz especialista

Em resposta às recentes alegações do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, que acusou o Brasil de desviar cotas comerciais para exportar aço chinês de forma camuflada, o ex-secretário de Comércio Exterior Welber Barral classificou a prática como “inviável” e “sem sustentação técnica”. Em entrevista ao UOL News, do Canal UOL, Barral destacou entraves logísticos, barreiras comerciais e riscos diplomáticos que tornariam a suposta estratégia impraticável.

Contexto da polêmica
A declaração de Trump retomou uma antiga discussão sobre as relações trilaterais entre EUA, Brasil e China. Em 2018, durante seu mandato, o republicano sugeriu que o acordo de cotas de aço estabelecido com o Brasil poderia estar sendo usado para escoar produtos siderúrgicos chineses, evitando tarifas impostas pelos EUA à China na época. Barral, que foi secretário de Comércio Exterior entre 2007 e 2011, rebateu: “Não há viabilidade econômica ou operacional nesse tipo de operação. O aço chinês já chega ao mercado americano por outras rotas, e o Brasil não tem interesse em arriscar sua reputação comercial”.

Dados reforçam argumento
Dados do Instituto Aço Brasil mostram que, em 2023, o país exportou apenas 2,4 milhões de toneladas de aço, com os EUA respondendo por 14% do total. Já a China, maior produtora global, registrou uma produção de 1,019 bilhão de toneladas no mesmo período, segundo a World Steel Association. Especialistas apontam que o custo logístico de transportar aço chinês para o Brasil e depois reexportá-lo aos EUA seria proibitivo, além de enfrentar barreiras alfandegárias rigorosas.

Riscos diplomáticos e comerciais
Barral ressaltou que o Brasil mantém relações estratégicas tanto com Washington quanto com Pequim e não arriscaria tensionar laços com os EUA, seu segundo maior parceiro comercial. “Qualquer desvio nas regras de origem seria facilmente identificado por auditorias internacionais, sujeitando o país a sanções”, explicou. Ele também citou medidas antidumping já aplicadas pelos EUA e pela União Europeia contra a China como um precedente que inviabilizaria operações de triangulação.

Posicionamento atual do governo brasileiro
Procurado pela reportagem, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) reiterou que “cumpre rigorosamente os acordos internacionais” e que as exportações de aço seguem padrões transparentes. Analistas ouvidos pelo UOL destacam que o Brasil, hoje, tem focado em ampliar sua própria competitividade no setor siderúrgico, com investimentos em energia limpa e tecnologia, distanciando-se de polêmicas geopolíticas.

Conclusão
Enquanto a retórica de Trump reacende debates sobre protecionismo, a análise técnica e os números reforçam a tese de que o Brasil não atuaria como “barriga de aluguel” para a China. Para Barral, o país deve priorizar acordos bilaterais que fortaleçam sua indústria, sem se envolver em esquemas de terceirização comercial.

(Fontes consultadas: UOL, Instituto Aço Brasil, World Steel Association, MDIC)

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