Às vésperas da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para os dias 30 e 31 de janeiro, o cenário inflacionário no Brasil mostra sinais de deterioração, impulsionado pela crescente incerteza fiscal. Analistas e instituições financeiras têm revisado para cima suas projeções de inflação, alimentando o debate sobre os rumos da política monetária e a possibilidade de novos ajustes nas taxas de juros.
Nos últimos meses, a falta de clareza sobre o rumo das contas públicas e a ausência de medidas concretas para o ajuste fiscal têm pesado sobre a confiança do mercado. O aumento da dívida pública, somado à desaceleração econômica, tem gerado dúvidas sobre a capacidade do governo de cumprir suas metas fiscais, o que acaba refletindo nas expectativas de inflação.
Segundo o último relatório Focus, divulgado pelo Banco Central, a mediana das projeções para o IPCA em 2025 subiu para 4,1%, acima do centro da meta de 3% (com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos). Para 2024, a estimativa já ultrapassa 4,5%, pressionada por fatores como a alta dos preços dos alimentos, combustíveis e energia elétrica.
O mercado financeiro também tem reagido com cautela. O dólar atingiu patamares superiores a R$ 5,00, e os futuros de juros indicam uma tendência de alta, refletindo o temor de que o Copom possa adotar uma postura mais dura para conter as pressões inflacionárias. A taxa Selic, atualmente em 11,75% ao ano, pode sofrer novos reajustes caso o cenário fiscal não melhore.
Especialistas alertam que, sem um plano fiscal crível, o Banco Central pode ter dificuldades para manter a inflação sob controle. “A incerteza fiscal é um dos principais fatores de risco para a inflação. Sem um ajuste claro, o Copom pode ser forçado a manter os juros altos por mais tempo, o que prejudica a recuperação econômica”, afirma Maria Silva, economista-chefe da consultoria XYZ.
Enquanto isso, o governo tenta acalmar os ânimos. Em recente declaração, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o Executivo está comprometido com o equilíbrio fiscal e que novas medidas devem ser anunciadas em breve. No entanto, até o momento, poucas ações concretas foram apresentadas, o que mantém o mercado em alerta.
Com a reunião do Copom se aproximando, a pressão sobre os membros do comitê aumenta. A decisão sobre os juros não será fácil: de um lado, a necessidade de conter a inflação; de outro, o risco de asfixiar ainda mais uma economia que já mostra sinais de fragilidade. O mercado aguarda ansioso, mas uma coisa é certa: sem clareza fiscal, a inflação continuará a ser um desafio persistente.