Em discurso contundente durante o Fórum de Ação Climática em São Paulo, a ministra do Meio Ambiente do Brasil, Marina Silva, criticou a histórica saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris sob o governo Trump, em 2020, afirmando que a decisão gerará consequências econômicas e geopolíticas duráveis para o país norte-americano. “Quem recua na agenda climática paga um preço alto. A falta de compromisso com o planeta afeta alianças comerciais, credibilidade internacional e o protagonismo em setores estratégicos, como energias renováveis”, destacou.
A declaração ocorre em um contexto de pressão global por metas mais ambiciosas contra o aquecimento global. Embora os EUA tenham retornado ao Acordo em 2021, sob a gestão Biden, Silva ressaltou que o período de afastamento (2017-2020) “enfraqueceu a cooperação multilateral e retardou avanços essenciais”. Dados do Instituto de Recursos Mundiais (WRI) revelam que os EUA, segundo maior emissor de CO₂ do mundo, viram suas emissões aumentarem 3,4% durante o hiato, enquanto a União Europeia e China aceleraram investimentos em transição energética.
Multilateralismo em Marcha
Apesar do revés, a ministra enfatizou que o multilateralismo climático “não depende de um único ator”. Após a saída dos EUA, 194 países reforçaram compromissos na COP26 (2021), e fundos como o Loss and Damage (para reparação de danos climáticos) ganharam força. “A agenda seguiu, mas a lição é clara: nenhuma nação pode ditar sozinha as regras do jogo ambiental”, afirmou Silva, citando a recente adesão de economias emergentes, como Índia e África do Sul, a pactos de descarbonização.
Brasil Reafirma Compromisso
Marina também destacou a reinserção do Brasil na diplomacia climática após 2023, com a retomada do Fundo Amazônia e a meta de zerar o desmatamento até 2030. “Estamos reconstruindo credibilidade. Em 2023, reduzimos 22% do desmate na Amazônia, mas precisamos de apoio financeiro internacional para escalar resultados”, disse, em referência ao acordo bilateral com os EUA, anunciado em fevereiro, que prevê R$ 1,2 bilhão para preservação.
Especialistas Alertam para Riscos
Para Carlos Nobre, climatologista brasileiro, a fala de Marina reflete um consenso científico: “Países que ignoram a crise climática perdem competitividade. O mercado global já penaliza nações com altas emissões via taxas de carbono, como faz a UE”. Relatório do FMI estima que economias dependentes de combustíveis fósseis podem perder até 15% do PIB até 2050 se não se adaptarem.
Enquanto os EUA buscam recuperar espaço com o Inflation Reduction Act (investimento de US$ 370 bilhões em energias limpas), Marina Silva conclui: “A emergência climática é um desafio coletivo. Isolar-se é um tiro no pé – e o planeta não vai esperar”.
Com informações de Agência Reuters, WRI e Climate Analytics.