O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), disparou críticas contundentes nesta segunda-feira (25) contra o Carrefour, após a rede varejista anunciar a suspensão da compra de carnes de países do Mercosul. Segundo Lira, a decisão do grupo francês foi “irresponsável e desrespeitosa” com o Brasil, maior exportador global de carne bovina. Ele também prometeu acelerar a tramitação de um projeto de lei que visa estabelecer regras de “reciprocidade” ambiental contra medidas que, segundo ele, prejudiquem os interesses nacionais.
“Retratação é Necessária”, Diz Lira
O anúncio do Carrefour, parte de uma política climática mais rígida para atender às exigências dos consumidores europeus, foi interpretado pelo parlamentar como um ataque direto ao setor agropecuário brasileiro. “Não é possível que o CEO do Carrefour não se retrate de sua declaração. Uma decisão como essa, tomada de maneira unilateral, desrespeita o Brasil e nossos produtores”, declarou Lira durante coletiva de imprensa.
O Carrefour justificou a suspensão com base em preocupações sobre desmatamento e emissões de carbono associadas à produção de carne no Mercosul. O grupo varejista, presente em mais de 30 países, destacou que está alinhado com metas internacionais para combate à crise climática, mas evitou apontar diretamente o Brasil como responsável.
Projeto de Lei e Pressão ao Varejo Internacional
Em resposta, Lira sinalizou que o Congresso avançará com um projeto de reciprocidade ambiental, cujo objetivo é impor exigências rigorosas para empresas estrangeiras que operam no Brasil. Ele argumenta que é necessário responder na mesma moeda: “Se querem impor restrições ambientais ao nosso produto, nós também vamos exigir transparência e cumprimento de regras de sustentabilidade das empresas que atuam aqui. Não seremos passivos frente a esse tipo de ataque”.
Ainda não há detalhes concretos sobre o conteúdo do projeto, mas fontes no Congresso indicam que ele pode incluir auditorias ambientais obrigatórias e restrições fiscais a empresas que discriminem produtos brasileiros.
Reação no Setor Agropecuário e Ambientalistas Divididos
A posição de Lira ecoou entre líderes do agronegócio, que classificaram a atitude do Carrefour como “protecionismo disfarçado de sustentabilidade”. O setor teme que a decisão abra precedentes para que outros varejistas globais adotem medidas semelhantes, dificultando o acesso do Brasil a mercados estratégicos.
Por outro lado, ambientalistas alertam que a resposta do presidente da Câmara pode desviar a atenção dos reais problemas enfrentados pela cadeia produtiva de carne, como o desmatamento ilegal e a falta de transparência em partes da cadeia de fornecimento. “O Brasil precisa liderar com responsabilidade, e não transformar tudo em um confronto. Estamos falando de exigências legítimas por sustentabilidade”, apontou Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente.
Carrefour Ainda em Silêncio
Até o momento, o Carrefour não se manifestou oficialmente sobre as críticas de Lira. Internamente, o grupo francês estaria avaliando o impacto da decisão no Brasil, seu segundo maior mercado em faturamento global. Especialistas destacam que o Carrefour busca alinhar-se às expectativas de seus consumidores europeus, muitos dos quais exigem ações ambientais mais contundentes.
A polêmica evidencia a tensão crescente entre o setor produtivo brasileiro e o mercado internacional, cada vez mais pressionado a adotar políticas climáticas ambiciosas. Nos bastidores, analistas alertam que embates como esse podem comprometer a imagem do Brasil e afetar as relações comerciais no longo prazo.
O Jogo de Forças
A ofensiva de Lira contra o Carrefour levanta questões mais amplas sobre a postura do Brasil no cenário global. Enquanto o agronegócio segue como pilar econômico, os desafios ambientais e a pressão internacional exigem estratégias equilibradas. Com a polarização acentuada, a próxima batalha deve ocorrer no plenário da Câmara, onde o projeto de reciprocidade ambiental promete gerar um intenso debate.