Em meio a decisões estratégicas sobre energia, Brasil amplia diálogo com a OPEP+ enquanto Petrobras avança em polêmica fronteira de exploração
Na última semana, o debate sobre a política energética brasileira ganhou novos capítulos. De um lado, o governo federal reforça sua aproximação com a OPEP+, grupo que reúne grandes produtores de petróleo do mundo. De outro, a Petrobras intensifica esforços para explorar a Margem Equatorial, região offshore que se estende do Rio Grande do Norte ao Amapá, mas enfrenta resistências ambientais e políticas. Esses temas foram destaque no programa Poder em Pauta, apresentado ao vivo pelo ex-senador Roberto Requião, que criticou a “entrega de recursos estratégicos a interesses estrangeiros”.
Brasil e OPEP+: Uma relação de “observador ativo”
Desde 2019, o Brasil participa da OPEP+ como “observador”, categoria que permite influenciar discussões sem assumir compromissos de corte de produção. Dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP) revelam que o país produz cerca de 3 milhões de barris diários, ocupando o 10º lugar no ranking global. A aproximação com o bloco, porém, gera debates: defensores veem vantagens geopolíticas, enquanto críticos, como Requião, alertam para riscos de perda de autonomia.
“Alinhar-se à OPEP+ pode significar ceder soberania sobre nossa produção”, afirmou Requião, citando pressões históricas de países árabes e EUA sobre o setor. Especialistas consultados pela Agência EPBR destacam, porém, que o modelo atual preserva a liberdade brasileira, já que o país não integra as cotas obrigatórias do grupo.
Petrobras na Margem Equatorial: o novo Pré-Sal?
Enquanto isso, a Petrobras mira a Margem Equatorial, área com potencial de até 30 bilhões de barris, segundo estimativas internas. O foco é a Bacia da Foz do Amazonas, próxima ao Amapá, onde a empresa planeja investir US$ 3 bilhões em exploração. O projeto, porém, esbarra em veto do IBAMA, que em 2023 negou licença ambiental devido a riscos para o bioma marinho — incluindo o Recife da Amazônia, ecossistema pouco estudado.
Requião destacou a contradição: “Enquanto o mundo discute transição energética, o Brasil insiste em apostar no petróleo, ignorando comunidades locais e acordos climáticos”. A Petrobras rebate, afirmando que a região é “estratégica para garantir a autossuficiência energética” e que utiliza tecnologia de baixo impacto.
A geopolítica do petróleo e o nacionalismo de Requião
No programa, Requião, conhecido por posições nacionalistas, vinculou os dois temas à soberania: “A Margem Equatorial é tão vital quanto o Pré-Sal. Permitir que multinacionais dominem essas áreas é repetir erros do passado”. Ele também criticou a possível adesão plena à OPEP+, lembrando que o bloco é liderado por nações com agendas antagônicas ao Brasil.
O debate ocorre em um contexto delicado: a Rússia, membro-chave da OPEP+, é parceira do Brasil em fertilizantes, e a China, maior compradora de petróleo brasileiro, pressiona por aumento da produção.
O Que esperar?
Enquanto o governo aguarda nova decisão do IBAMA sobre a Margem Equatorial, analistas veem a OPEP+ como ferramenta para ampliar mercados. Para ambientalistas, porém, o momento exige cautela: “Explorar novas fronteiras petrolíferas colide com metas de neutralidade de carbono”, afirma Suely Araújo, ex-presidente do IBAMA.
O certo é que, seja no tabuleiro global da OPEP+ ou nas águas profundas do Norte do país, o Brasil enfrenta um dilema: como equilibrar desenvolvimento econômico, soberania e sustentabilidade. A resposta definirá não apenas o futuro energético, mas também o papel do país no cenário pós-carbono.
Fontes consultadas: Agência EPBR, ANP, Reuters, Canal Poder em Pauta (YouTube).