Plataformas Digitais na Educação do Paraná: Autonomia Docente em Xeque ou Assédio Velado?

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A implementação e o uso de plataformas digitais na rede pública de ensino do Paraná têm gerado debates intensos e levantado questões cruciais sobre a autonomia docente e a verdadeira intenção por trás de sua “sugestão” de uso. Uma investigação aprofundada, conduzida por um professor da rede, revela que a obrigatoriedade dessas ferramentas não está formalmente estabelecida em nenhum documento oficial, desmistificando uma percepção amplamente difundida entre os educadores.
Documentos como o Ofício Circular n°6 de 2023 e a Instrução Normativa 05/2024 utilizam verbos como “apoiar”, “potencializar”, “auxiliar”, “poderá” e “possibilitará” ao se referir ao uso das plataformas, jamais impondo seu caráter obrigatório. Essa constatação, embora clara nos textos, parece ter sido obscurecida por uma pedagogia do medo e um assédio moral informal que tem pressionado os professores a aderirem massivamente às plataformas.
Milhões em Jogo e a Métrica de Acesso como Justificativa
A questão se torna ainda mais complexa ao considerarmos os milhões de reais em dinheiro público investidos nessas empresas de plataformas. Para justificar esses gastos perante o Tribunal de Contas, a métrica de acesso torna-se o principal mecanismo de validação, criando um incentivo para o uso generalizado, mesmo que não haja um respaldo formal para a obrigatoriedade.
A falta de clareza e a pressão velada para o uso das plataformas levantam suspeitas sobre acordos informais e a possibilidade de que essa “não obrigatoriedade” seja convenientemente ignorada. Um professor relata ter alertado a lideranças sindicais sobre essa discrepância no passado, sem que suas preocupações fossem devidamente acolhidas, sugerindo uma possível conivência com a situação.
“Plataforma Zero: Independência ou Morte!” – O Grito da Autonomia Pedagógica
O professor que realizou o estudo defende a “plataforma zero” como um lema, um grito de “independência ou morte” para a categoria. A independência pedagógica, neste contexto, é vista como essencial para resgatar a autonomia docente, que tem sido minada por um processo que ele denomina taylorismo digital.
Essa nova forma de gestão da educação, influenciada pelo modelo neoliberal, busca a expropriação do saber fazer do professor, transformando a ação pedagógica em um processo burocrático e padronizado. A divulgação de planilhas de excel com o status de uso das plataformas pelos professores (verde, amarelo, vermelho), remetendo ao sistema Kanban, é um exemplo claro dessa tática de pressão e assédio moral.
A autonomia docente, prevista na Lei de Diretrizes e Bases (LDB), que garante a liberdade de ensinar e aprender, parece ser diretamente confrontada por essa dinâmica. O professor ressalta que a pressão vem “de cima pra baixo”, com direções e pedagogias exercendo um controle que, por sua natureza informal, se torna ainda mais insidioso.
A Servidão Voluntária e o Impacto na Qualidade do Ensino
A pedagogia do medo, aliada à desinformação, tem levado muitos professores a uma servidão voluntária, onde a adesão às plataformas se dá não por convicção, mas por temor de retaliações ou da perda de seus cargos. Essa dinâmica resulta em uma superficialidade no ensino, onde a ação pedagógica se limita a “cumprir tabela” e a “repassar slides” sem o devido aprofundamento.
Alunos, inclusive, já expressam o descontentamento com essa abordagem, relatando que “só você e mais 2 ou 3 dão aula, os demais é só copiar slide e plataforma. Não aprendemos nada, nas temos nota. Com outros ralamos pra ter nota mas aprendemos”. O relato de professores em desespero quando a internet falha, incapazes de prosseguir com a aula sem a plataforma, ilustra a alarmante dependência criada e a erosão da capacidade de improvisação e criatividade docente.
A observação de que a cobrança dos “descritores” nas provas acaba influenciando a aplicação de slides considerados obrigatórios (mesmo sem sê-lo) demonstra como a burocracia pode sufocar a liberdade de planejamento curricular. A escolha entre aprofundar alguns conteúdos ou “socá-los” para cobrir tudo em tempo recorde se torna um dilema imposto por essa lógica.
Em suma, a “educação digital” no Paraná, sob a ótica da pressão informal pelo uso das plataformas, revela-se como um modelo de empresariamento educacional que ameaça a essência da docência e a qualidade do aprendizado, transformando professores em meros “repassadores de slides” e “aplicadores de plataforma”, em detrimento da rica e complexa arte de ensinar.
O que você pensa sobre a real intenção por trás da “sugestão” de uso das plataformas digitais e seus impactos na educação paranaense?

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