Professora é demitida na Flórida por usar nome social de aluno: entenda o primeiro caso sob a Lei Don’t Say Gay


Demissão histórica nos EUA reacende debate sobre direitos LGBTQIA+, controle parental e censura em escolas. Comunidade se mobiliza com petições e protestos.


PorJulio Take, Redação

A professora Melissa Calhoun, com 11 anos de carreira na Satellite High School (condado de Brevard, Flórida), tornou-se o primeiro caso conhecido de demissão nos EUA por usar o nome social de um estudante transgênero sem autorização dos pais. O episódio, ocorrido em meio à aplicação rigorosa da lei estadual Don’t Say Gay (aprovada em 2022), expõe a tensão entre políticas conservadoras e a proteção de identidades de gênero nas escolas americanas .

O que aconteceu?

Calhoun chamou um aluno trans — cujo nome legal é associado ao gênero feminino — pelo nome masculino que ele prefere. A ação violou a legislação da Flórida, que proíbe educadores de adotarem nomes ou pronomes alternativos sem consentimento formal dos responsáveis. Uma denúncia anônima de um pai levou à investigação, e a professora admitiu ter agido “intencionalmente”, segundo Janet Murnaghan, porta-voz do distrito escolar. O contrato de Calhoun, que expira em maio, não será renovado, embora ela conclua o ano letivo .

A lei, criticada por ativistas como discriminatória, faz parte de uma onda de medidas em estados republicanos para restringir discussões sobre gênero e orientação sexual em escolas. Sob o governo Trump, o Departamento de Educação federal ampliou essa agenda, ameaçando cortar verbas de instituições que permitem a participação de estudantes trans em esportes femininos, como ocorreu recentemente no Maine .

Reações e mobilização

A decisão gerou revolta: mais de 26 mil pessoas assinaram uma petição pela reintegração de Calhoun, destacando seu histórico de “respeito e inclusão”. Alunos organizaram uma “greve” em 10 de abril, e moradores compareceram a uma reunião do conselho escolar para defendê-la. “Não houve dano, apenas uma professora tentando se conectar com um aluno”, argumentou Kristine Staniec, especialista em mídia da escola .

Já o Departamento de Educação da Flórida defendeu a demissão: “Decisões sobre mudanças de nome devem ser dos pais, não de educadores”. O órgão avalia cassar a licença de Calhoun para lecionar no estado .

Contexto nacional e casos similares

Este não é um caso isolado. Em Ohio, a professora cristã Vivian Geraghty foi demitida em 2022 após recusar-se a usar pronomes de alunos trans, alegando conflito com suas crenças religiosas. Seu processo judicial alegou violação à liberdade de expressão, mas a escola manteve a política de respeitar identidades de gênero .

Tais disputas refletem uma divisão cultural nos EUA. Pesquisas do Pew Research Center (2022) mostram que 5% dos jovens de 18 a 29 anos se identificam como trans ou não binários, contra 0,3% dos maiores de 50 anos. Organizações como o Trevor Project alertam que a não aceitação aumenta riscos de saúde mental: 20% desses jovens relatam tentativas de suicídio .

Impacto na educação

A demissão de Calhoun sinaliza um cenário de autocensura. Professores LGBTQIA+ na Flórida relatam medo de discutir suas vidas pessoais ou abordar temas de gênero. Em 2023, uma docente foi investigada por exibir um filme da Disney com personagem gay, exemplificando o clima de repressão .

Para defensores dos direitos trans, a lei ignora a realidade de jovens que não têm apoio familiar. “O nome social é uma questão de sobrevivência para muitos”, afirma ativista local. Já grupos como Moms for Liberty, influentes no condado de Brevard, celebram a decisão como vitória do “direito parental” .

O Que esperar?

Enquanto o caso de Calhoun segue sob apelo, o debate nacional se intensifica. No Congresso, democratas pressionam por leis federais que protejam identidades de gênero, enquanto republicanos ampliam restrições em estados como Texas e Tennessee. A Flórida, berço político de Ron DeSantis, permanece no epicentro dessa guerra cultural — e seu desfecho pode definir o futuro da educação americana.


Fontes consultadas: [Extra], [Folha de S.Paulo

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