Nos últimos dias, o Paraná tem enfrentado uma crise energética que afeta diretamente a vida de milhares de produtores rurais e moradores. Relatos de quedas frequentes de energia e demora no religamento têm se multiplicado em diversas regiões do estado, gerando prejuízos milionários e colocando em risco a produção agropecuária, um dos pilares da economia paranaense.
Em Santa Maria do Oeste, por exemplo, milhares de litros de leite foram perdidos devido à falta de energia, que impediu o funcionamento de equipamentos essenciais para a refrigeração. Já em Capitão Leônidas Marques, produtores relataram mais de 15 quedas de energia em apenas um dia, entre 10h e 15h, causando a queima de motores, bombas de irrigação e outros equipamentos sensíveis.
A situação não é isolada. Dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) mostram que, no último quadrimestre de 2023, o Paraná registrou mais de 38 mil interrupções no fornecimento de energia, um aumento de 23,6% em relação ao mesmo período de 2022. O tempo médio de religamento também subiu, passando de 248 minutos para 355 minutos, quase seis horas de espera.
Impactos no Campo e na Economia
Os prejuízos vão além dos equipamentos queimados. Na avicultura, por exemplo, a falta de energia tem causado a morte de milhares de aves. Em Terra Boa, um avicultor perdeu 10 mil frangos de um lote de 200 mil após ficar três dias sem energia. Ele precisou alugar geradores, que também queimaram devido à sobrecarga, resultando em um prejuízo de R$ 100 mil.
Na região de Mandirituba, os produtores enfrentam oscilações de energia toda semana, o que já causou a queima de quatro motores e um controlador, com gastos de R$ 2,5 mil em reparos. “Quando está no gerador, a gente não dorme. Tem que ficar monitorando a temperatura da granja. É um desgaste psicológico”, desabafa Eduardo Araújo, avicultor da região.
Privatização da Copel e Falta de Respostas
Muitos produtores atribuem o agravamento do problema à privatização da Copel, ocorrida em agosto de 2023. Desde então, houve um aumento de 41% nas interrupções de energia e um crescimento de 55% no tempo médio de reparo, segundo o Sindicato dos Engenheiros do Paraná (Senge).
Além disso, os canais de atendimento da empresa têm sido criticados por sua ineficiência. Em Guarapuava, o presidente do sindicato rural, Rodolpho Botelho, relata que o atendimento presencial está restrito ao período da manhã, enquanto os canais virtuais são ineficazes, deixando os produtores sem suporte por dias.
Reivindicações e Ações Judiciais
Diante do descaso, produtores rurais e entidades representativas têm buscado soluções. Em Guarapuava, 30 produtores já consideram entrar com ações judiciais contra a Copel para ressarcir os prejuízos causados pelas oscilações e quedas de energia.
Deputados estaduais também estão mobilizados. Em março de 2024, uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP) discutiu o tema e encaminhou denúncias à Aneel e ao Ministério Público. “A energia é um bem essencial. Não podemos aceitar esse descaso”, afirmou a deputada Luciana Rafagnin.
Conclusão
A crise energética no Paraná é um problema que exige ações urgentes. Enquanto os produtores rurais sofrem com prejuízos financeiros e emocionais, a falta de manutenção e a ineficiência no atendimento da Copel agravam a situação. É preciso que as autoridades e a empresa tomem medidas imediatas para garantir um fornecimento estável de energia, essencial para o desenvolvimento econômico e social do estado.