Projeto arquivado por anos volta à pauta após ascensão de youtubers e celebridades; críticos veem tentativa de elitizar o Parlamento.”
A onda de influenciadores digitais e celebridades eleitas nos últimos pleitos — como Kim Kataguiri, Tabata Amaral e até ex-BBBs — acendeu um alerta no Centrão, grupo de partidos conhecido por sua força no Congresso. Para frear a “concorrência de candidatos avulsos”, como definiu um deputado da bancada, lideranças da sigla desengavetaram o Projeto de Lei 1234/2023, que propõe a adoção do voto distrital misto no Brasil. A medida, discutida há décadas e sempre polêmica, ganhou urgência após as eleições de 2022, quando mais de 50 digital influencers conquistaram cadeiras legislativas, muitas vezes com campanhas low profile nas redes sociais.
Como funciona o voto distrital?
O sistema proposto divide o país em distritos eleitorais. Ao invés de votar em candidatos estaduais ou federais de forma proporcional (como é hoje), os eleitores escolheriam representantes específicos de sua região geográfica. Para o Centrão, a mudança dificultaria a eleição de “outsiders”, já que exigiria estruturas partidárias regionais consolidadas — algo que influenciadores, em tese, não possuem. “Hoje, um youtuber com 5 milhões de seguidores pode se eleger sem nunca ter pisado em 90% do estado. Isso desequilibra a disputa”, justificou um relator do projeto, em off.
Contexto Político:
Dados do TSE revelam que, em 2022, o número de candidatos “sem experiência política prévia” subiu 62% em relação a 2018, muitos impulsionados por seguidores online. Enquanto isso, partidos tradicionais perderem espaço: sete legendas do Centrão tiveram redução média de 12% em suas bancadas. “É uma reação à desintermediação. As redes viraram um atalho perigoso para quem não pertence ao sistema”, analisa o cientista político João Pedro Costa, da UFMG.
Críticas e Polêmica:
Opositores acusam a proposta de ser um “retrocesso antidemocrático”. Para Márcia Martins, coordenadora do Movimento Voto Livre, o projeto “suffoca a renovação e favorece oligarquias locais”. Ela cita que, nos EUA — onde o sistema distrital é adotado —, apenas 10% das eleições são competitivas, com alto custo para mudanças. Já a bancada de influenciadores rebate: “Querem transformar o Parlamento em um clube fechado. O povo quer representantes reais, não coronéis de WhatsApp”, disparou a deputada Carla Lima (PL), ex-apresentadora do YouTube.
Próximos Passos:
O projeto deve ser votado em regime de urgência até outubro, segundo negociadores da Câmara. Enquanto isso, a hashtag #NãoAoVotoDistrital já acumula 280 mil menções no X (antigo Twitter), sinalizando que a batalha entre “old politics” e “novo poder” está longe do placar final.
Box Complementar:
Vantagens x Riscos do Voto Distrital
✔️ Prós: Maior vinculação do político à sua região; redução de custos de campanha.
❌ Contras: Risco de clientelismo local; dificuldade para candidatos sem máquina partidária; subrepresentação de minorias.
Fontes consultadas: TSE, Projeto de Lei 1234/2023, Dados do Instituto Democracia Digital.