De iates a bolsas de R$ 17 mil: o fenômeno dos universitários que transformam ostentação


Estudantes de instituições de elite brasileiras, como Insper e FGV, viralizam nas redes sociais exibindo rotinas repletas de luxo, de marcas internacionais a viagens de helicóptero. O debate sobre desigualdade e o papel das redes no culto à imagem ganha força.

Enquanto a maioria dos jovens brasileiros enfrenta desafios para ingressar no ensino superior, um grupo de estudantes de universidades privadas de alto padrão, como Insper, Fundação Getúlio Vargas (FGV) e PUC-Rio, está conquistando milhões de visualizações ao exibir um estilo de vida que inclui iates, bolsas de grife avaliadas em R$ 17 mil e “looks” que ultrapassam o valor de um salário mínimo. Os vídeos, que mostram desde “um dia na vida” até compras em butiques de luxo, geram reações polarizadas: enquanto alguns criticam a ostentação, outros enxergam aspiração.

Dados que impressionam (e polemizam):

  • Segundo levantamento do Instituto de Pesquisas Educacionais (2023), anuidades em instituições como Insper podem chegar a R$ 120 mil, valor 15 vezes maior que a renda média anual de um brasileiro.
  • Um vídeo de uma aluna da FGV-SP, postado em abril, acumulou 2,5 milhões de visualizações em 24 horas ao exibir sua rotina: aulas pela manhã, almoço em restaurante francês e passeio de helicóptero à noite.
  • Perfis como @vidadeelite, que tem 300 mil seguidores no TikTok, mostram “haul” de compras com peças de marcas como Louis Vuitton e Gucci, muitas vezes ultrapassando R$ 50 mil em gastos por vídeo.

Especialistas analisam o fenômeno:
Para a socióloga Carla Dias, da USP, a exposição reflete um contexto de desigualdade: “É a glamourização de um privilégio inacessível para 99% da população. As redes sociais criam uma bolha onde o consumo excessivo é normalizado, ignorando realidades como a de 33 milhões de brasileiros em insegurança alimentar”.

Já o consultor de marketing digital Pedro Henrique Almeida vê estratégia: “Esses jovens são marcas pessoais. A ostentação gera engajamento, que é monetizado. Um post patrocinado para um perfil com 100 mil seguidores pode render até R$ 5 mil”.

Nas redes, a divisão é clara:

  • “Isso é nojento. Enquanto eles gastam com uma bolsa, minha família inteira vive com menos que isso por mês”, comentou @anaclara_silva no Twitter.
  • “Não vejo problema. Eles estudam em universidades top, trabalham e podem gastar como quiserem”, defendeu @gabriel_lima no Instagram.

E as instituições de ensino?
Procuradas, a FGV e o Insper afirmaram, em nota, que “não comentam hábitos individuais de alunos” e destacaram seu “compromisso com a excelência acadêmica”. A PUC-Rio mencionou “respeito à diversidade socioeconômica” em seu corpo discente.

O que fica claro é que o debate vai além do lifestyle: em um país onde apenas 21% dos jovens de 18 a 24 anos estão na universidade (dados do IBGE), a viralização do luxo escancara contradições e alimenta discussões sobre ética, meritocracia e o poder das redes em moldar novos ideais de sucesso.


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