Os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que a economia brasileira cresceu 2,9% em 2023, superando projeções iniciais e marcando o terceiro ano consecutivo de expansão. No entanto, a sensação de “tudo muito caro”, relatada por consumidores, contrasta com os números positivos do Produto Interno Bruto (PIB). Enquanto setores como agronegócio e serviços impulsionam a alta, a inflação acumulada de 4,6% no último ano, medida pelo IPCA, e a estagnação salarial mantêm o poder de compra sob pressão, alimentando insatisfação popular.
Inflação Seletiva e Salários que Não Acompanham
Apesar da queda na taxa geral de inflação em relação a 2022 (5,79%), itens essenciais seguem em disparada: alimentos subiram 5,3% em 12 meses, e habitação (incluindo aluguel e energia) acumula alta de 4,9%, segundo o IBGE. Para piorar, o rendimento médio do trabalhador cresceu apenas 1,08% no mesmo período, ajustado pela inflação — um avanço “praticamente invisível no dia a dia”, como define Carlos Eduardo, auxiliar de produção em Minas Gerais.
Especialistas Alertam: Crescimento Não é Sinônimo de Bem-Estar
Economistas ouvidos pela reportagem destacam que o avanço do PIB, embora relevante, não reflete desigualdades estruturais. “O Brasil vive uma recuperação em K“, explica Ana Clara Hermann, da consultoria Tendências. “Enquanto setores exportadores e de alta renda prosperam, o assalariado perde fôlego com custos fixos elevados e crédito escasso”. A taxa de desemprego, embora em queda (7,8%), ainda mantém 8,4 milhões de pessoas em busca de trabalho, segundo dados de fevereiro de 2024.
Juros Alto e Crédito Restrito: O Círculo Vicioso
Para conter a inflação, o Banco Central manteve a Selic em 10,5% ao ano, encarecendo empréstimos e limitando o acesso a financiamentos. “Parcelas que antes cabiam no orçamento agora são impossíveis”, reclama Maria Souza, microempreendedora de São Paulo. A medida, embora teoricamente eficaz contra a alta de preços, é criticada por especialistas que defendem políticas setoriais para aliviar custos específicos, como subsídios a combustíveis e energia.
Governo Reage com Auxílios, mas Efeito é Limitado
Em resposta à crise de custo de vida, o governo federal ampliou o valor do Bolsa Família para R$ 600,00 por família vulnerável, programa que beneficia 21 milhões de lares. Entretanto, para quem está fora desses programas, como a classe média baixa, o alívio é mínimo. “Ajuda quem mais precisa, mas não resolve o problema de quem ganha três salários e paga R$ 1.500 de aluguel”, diz Thiago Silva, professor no Rio de Janeiro.
Perspectivas para 2024: Otimismo Cauteloso
Analistas projetam crescimento menor para este ano (entre 1,5% e 2%), com redução gradual da inflação. Porém, reformas estruturais — como simplificação tributária e investimentos em infraestrutura — continuam travadas no Congresso, deixando a população refém de melhorias lentas. Enquanto isso, o desabafo nas redes sociais resume o sentimento: “PIB sobe, meu salário não. Cadê a minha fatia do bolo?”, questiona uma usuária no X (antigo Twitter).
Fontes Consultadas: IBGE, Banco Central, IPCA/IBGE, plataformas de monitoramento de preços.