Brasil escapa do pior do tarifaço de Trump, mas desafios persistem


Alívio relativo: Brasil recebe menor alíquota em tarifa global de Trump, mas setores estratégicos ainda sofrem

A tensão gerada pelo anúncio do “tarifaço global” de Donald Trump, que ameaçava taxar importações de diversos países, deu lugar a um cauteloso alívio para o Brasil. Enquanto nações como China (34%), Índia (26%) e União Europeia (20%) foram penalizadas com taxas mais altas, o país recebeu a menor alíquota extra (10%) sobre suas exportações para os EUA, medida que entrou em vigor em 5 de abril . A decisão, porém, não apaga os desafios para setores como o siderúrgico, já impactado por taxas de 25% sobre aço e alumínio desde março .


O que explica a taxa de 10%?

A Casa Branca justificou a alíquota com base na média de tarifas brasileiras sobre produtos americanos, calculada em 10% após considerar barreiras não tarifárias e regimes especiais de importação . Dados do FGV Ibre revelam que, em 2022, o Brasil cobrava uma tarifa efetiva média de 4,7% sobre importações dos EUA, contra 1,3% aplicados pelo país norte-americano . A diferença se deve a isenções em produtos como aeronaves, petróleo e gás natural, que representam quase metade das exportações americanas para o Brasil .


Impactos imediatos: queda nas exportações e aumento de importações

Apesar da alíquota menor, o Brasil já sente os efeitos:

  • Exportações para os EUA caíram 13,3% em março, com destaque para produtos como café e celulose .
  • Importações de produtos americanos subiram 17,6% no mesmo período, impulsionadas por eletrônicos e combustíveis .
  • O aço brasileiro, segundo item mais exportado para os EUA (US$ 2,8 bilhões em 2024), teve aumento de 23,9% nas vendas em março, possivelmente antecipando a vigência das tarifas .

Especialistas alertam que a redução das exportações pode pressionar o mercado interno, com excedente de aço baixando preços e margens de lucro das empresas .


Setores em risco e oportunidades

  • Siderurgia: A taxa de 25% sobre aço, em vigor desde 12 de março, pode reduzir exportações brasileiras em até US$ 0,7 bilhão, segundo o Bradesco . Empresas como ArcelorMittal e Ternium, dependentes do mercado americano, são as mais afetadas .
  • Etanol e carne bovina: Apesar de o etanol ter impacto limitado, há risco de novas taxas sobre carne e suco de laranja, produtos sensíveis para o agronegócio .
  • Calçados: A Abicalçados vê oportunidade, já que a taxa de 10% é menor que as alíquotas anteriores (0% a 48%) .

Ameaças além das tarifas: a “enxurrada chinesa”

Com países asiáticos enfrentando taxas mais altas, o Brasil pode ser inundado por produtos chineses redirecionados, pressionando a indústria nacional. “A China tem capacidade de pressionar o Brasil”, alerta Matias Spektor, da FGV-SP . Além disso, a UE e a China já preparam retaliações, o que pode desencadear uma guerra comercial global .


Retaliação ou negociação? O dilema brasileiro

O governo Lula avalia respostas como quebra de patentes e suspensão de royalties de empresas americanas, autorizadas por lei recente . No entanto, especialistas como Welber Barral alertam que retaliar seria “suicídio econômico”, já que 48% das importações brasileiras dos EUA são insumos industriais . A aposta é no diálogo, com reuniões marcadas entre chanceleres na próxima semana .


Alívio temporário em um cenário incerto

A taxa de 10% poupou o Brasil do pior, mas não resolve desafios estruturais. Enquanto o setor privado busca alternativas, como diversificar mercados ou absorver excedentes internamente, a diplomacia será crucial para evitar escaladas. Como resume Lia Valls, da FGV: “O Brasil precisa de estratégia, não de improviso” .


Fontes: G1, BBC News Brasil, UOL, O Globo, Valor Econômico.

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