No Brasil, a democracia, em sua essência, clama pela participação ativa de seus cidadãos. Questionar os projetos políticos e cobrar ações efetivas dos eleitos deveria ser um exercício constante, um pilar fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa. Afinal, em um regime democrático, o poder emana do povo, e a fiscalização de como esse poder é exercido é um direito – e um dever – de cada indivíduo.
No entanto, a realidade brasileira, como aponta um levantamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), revela um cenário preocupante de desinteresse e baixa participação política, especialmente entre os jovens. A queda no número de filiados a partidos políticos nos últimos anos, com uma diminuição de 5,7% entre 2018 e 2023, demonstra um afastamento da população dos mecanismos formais de participação. Esse desinteresse, muitas vezes alimentado pela percepção de corrupção e pela falta de representatividade, conforme apontam estudos do Politize!, tem um impacto direto na forma como os direitos da sociedade são defendidos e garantidos.
A lógica democrática é clara: elege-se um representante para que este governe em prol do bem comum, seguindo as diretrizes e promessas de sua campanha. Confrontar os ganhadores das eleições, seja no âmbito municipal, estadual ou federal, e exigir que suas ações correspondam às necessidades da população não é um ato de rebeldia, mas sim um exercício legítimo da cidadania. É através dessa cobrança constante que se pode garantir uma gestão pública eficiente e alinhada com os anseios da maioria.
Contrariamente ao que seria esperado em uma democracia consolidada, no Brasil, essa postura vigilante muitas vezes não se concretiza. A passividade de grande parte da sociedade diante das decisões políticas e da atuação dos governantes acarreta consequências diretas no cotidiano da classe trabalhadora. A falta de pressão e de um acompanhamento rigoroso dos projetos e políticas públicas frequentemente resulta no tolhimento de direitos no campo de trabalho, na precarização das condições laborais e na estagnação ou até mesmo na diminuição da renda.
Dados históricos mostram que a união da classe trabalhadora sempre foi um motor de transformação social no Brasil. As conquistas de direitos como a jornada de trabalho de oito horas, o descanso semanal remunerado e a licença-maternidade são frutos de mobilizações e da organização dos trabalhadores em torno de objetivos comuns. A própria fundação do Partido dos Trabalhadores (PT) nos anos 80, como consequência das greves do ABC, é um exemplo emblemático do poder da união da classe trabalhadora na busca por representatividade política e melhores condições de vida.
O que ainda falta, e se mostra cada vez mais urgente, é uma renovada união da classe trabalhadora em torno de objetivos comuns que transcendam as particularidades de cada categoria profissional. A busca por uma melhor renda, por ambientes de trabalho mais seguros e saudáveis, e pela garantia de direitos previdenciários e trabalhistas robustos deve ser uma bandeira unificada. Somente através dessa união e de uma postura mais ativa na fiscalização do poder político, a sociedade brasileira poderá, de fato, usufruir dos benefícios de um sistema democrático que coloque os direitos e o bem-estar de todos em primeiro lugar. A apatia não é uma opção; a união e a cobrança são os caminhos para uma sociedade mais justa.
Cidadania adormecida? A urgente necessidade de fiscalizar o poder e unir a classe trabalhadora no Brasil
