A possibilidade de uma greve geral no Paraná, convocada pela APP-Sindicato contra o governo estadual, levanta questionamentos sobre os bastidores da decisão sindical. Por trás da aparente hesitação em deflagrar uma paralisação de grandes proporções, reside um histórico de enfrentamentos e uma forte pressão governamental que impõem um alto custo à mobilização.
Nos últimos anos, a relação entre o governo do Paraná e os sindicatos, em especial a APP-Sindicato que representa os professores e funcionários de escola, tem sido marcada por conflitos intensos. Um dos episódios mais emblemáticos remonta a 2015, quando manifestações de professores resultaram em confrontos com a Polícia Militar, gerando debates sobre a segurança dos manifestantes e a atuação das forças de segurança. Esse evento, que teve repercussão nacional, deixou cicatrizes profundas na categoria e no histórico de mobilizações.
Mais recentemente, a tensão escalou com as discussões sobre a privatização das escolas estaduais. Em junho de 2024, em meio a uma greve da categoria, o governo do Paraná, através da Procuradoria-Geral do Estado (PGE), tomou medidas drásticas. Foi solicitado o pedido de prisão da presidente da APP-Sindicato, Walkiria Mazeto, e a majoração da multa diária contra a entidade para R$ 100 mil, sob a alegação de atos de violência e invasão de prédios públicos durante os protestos.
A APP-Sindicato reagiu veementemente a essas ações, classificando-as como “práticas antissindicais, ilegais e truculentas”. O sindicato tem argumentado que as medidas governamentais configuram um abuso de poder desproporcional e uma tentativa de criminalizar o direito constitucional à greve. A situação chegou ao ponto de seis centrais sindicais denunciarem a postura do governo à Organização Internacional do Trabalho (OIT), evidenciando a gravidade do cenário de repressão.
Paralelamente, o Ministério Público do Trabalho (MPT-PR) tem investigado denúncias apresentadas pela APP-Sindicato sobre práticas ilegais do governo contra servidores em greve, como perseguição política e ameaças. Essas investigações reforçam a percepção de um ambiente hostil para o movimento sindical no estado.
Diante desse panorama, o “medo” atribuído à APP-Sindicato pode ser interpretado não como fraqueza, mas como uma avaliação estratégica dos riscos e consequências de uma greve geral. As duras retaliações governamentais, as ameaças de criminalização e a pressão judicial elevam o patamar do confronto, exigindo cautela e um planejamento robusto para proteger a categoria e garantir a eficácia da mobilização. A luta pela educação pública no Paraná, portanto, não se limita apenas às demandas da categoria, mas também à defesa do próprio direito de se organizar e protestar em um ambiente de crescentes desafios e pressões.
Fontes:
- Evento Interativo – Confronto entre a Polícia Militar e os Professores do Paraná
- Memória viva: histórias que não envelhecem – APP-Sindicato
- A silenciosa vingança de Traiano – Parágrafo 2
- Professores e funcionários de escolas da rede estadual do Paraná encerram greve – Tribuna PR
- Em meio à greve nas escolas, Procuradoria do Paraná pede prisão de professora que preside sindicato – Brasil de Fato
- MPT investiga perseguição do governo Ratinho contra servidores(as) em greve – APP-Sindicato
- Marcha pela educação toma ruas do centro de Curitiba – CUT
- 14 DA APP-SINDICATO Congresso Estadual
- CURITIBA 2021 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ WALKIRIA OLEGÁRIO MAZETO A LUTA SINDICAL TEM GÊNERO? AS DEMANDAS DAS DOCENTES DA – SIGA UFPR