Em um grupo de WhatsApp, professores paranaenses debatem um tema incômodo: “Quando a farsa da melhor Educação do Brasil irá cair por terra?”. A pergunta, carregada de frustração, reflete um cenário de desgaste estrutural no sistema educacional do estado, marcado por denúncias de assédio moral, políticas questionáveis e uma cobrança excessiva por resultados no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB).
A pressão por resultados e o “teatro de horrores”
Relatos dos educadores apontam para uma cadeia de pressões que começa no governo estadual, passa pelos Núcleos Regionais de Educação (NREs) e chega às escolas. Diretores e pedagogos são cobrados a “melhorar números” a qualquer custo, repassando a exigência aos professores. Quem resiste, enfrenta ameaças de remoção de turmas ou perda de vagas. O Programa Parceiros da Escola, iniciativa do governo estadual para “modernizar a gestão”, é apontado como um dos responsáveis pela redução de oportunidades para professores concursados, privilegiando contratações temporárias (PSS).
NREs na mira: Status x Sala de Aula
Os Núcleos Regionais de Educação também são alvo de críticas. Docentes afirmam que parte dos profissionais lotados nessas unidades busca “fugir da sala de aula” para ocupar cargos administrativos, muitas vezes sem transparência na seleção. “Nos NREs, o que importa é ter status e ficar longe do chão da escola”, disparou um professor, sob anonimato. A reivindicação é clara: vagas administrativas deveriam ser preenchidas exclusivamente por concursados, garantindo equidade.
Assédio moral e o silêncio forçado
O assédio moral é tratado como rotina. Professores relatam cobranças humilhantes, ameaças veladas e a imposição de práticas pedagógicas focadas apenas em “treinar alunos para provas”, em detrimento de um ensino crítico. “Somos coagidos a aceitar ordens absurdas, sob risco de perseguição. Muitos se calam por medo de perder o pouco que têm”, desabafa uma educadora. A sugestão que ganha força no grupo é: denunciar ao Ministério Público casos de assédio, independente de sindicalização.
Dados que alarmam
Enquanto o Paraná ostenta a 1ª maior nota do IDEB no país, especialistas alertam: o índice não reflete a qualidade real. Relatórios do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) mostram que 56% das escolas estaduais paranaenses não atingiram metas internas de desempenho em 2024. Além disso, o estado tem um grande número de professores temporários (PSS, cenário que, fragiliza a carreira e a autonomia docente.
Educação ou negócio?
O governo do Paraná defende o Programa Parceiros da Escola como “modernização necessária”, com investimentos em infraestrutura e gestão. Para a base docente, porém, a realidade é outra: escolas viram arenas de competição, onde números importam mais que formação humana. “Todos somos reféns: professores, diretores e NREs. Estamos todos no mesmo barco, mas o barco está furado”, conclui um debatedor.
O caminho proposto: união e ação
A discussão ressalta a urgência de mobilização coletiva. Além de denúncias formais, professores defendem:
- Fim da precarização via PSS;
- Transparência na alocação de profissionais nos NREs;
- Revisão das políticas de avaliação que transformam o IDEB em “troféu político”.
Enquanto o debate esquenta nos grupos de WhatsApp, a pergunta que fica é: Quando o sistema vai ouvir quem está na sala de aula?