A inusitada federação entre Moro e Ricardo Barros no Paraná

Nas últimas semanas, o deputado federal Ricardo Barros (Progressistas) chamou atenção nas redes sociais ao publicar uma série de fotos ao lado do senador e ex-juiz Sérgio Moro (União Brasil). Os registros, aparentemente descontraídos, são mais do que um gesto de cortesia: simbolizam a formação de uma federação partidária entre Progressistas e União Brasil, que deve vigorar já nas eleições de 2024. A aliança, porém, carrega um paradoxo histórico. Enquanto Moro ganhou notoriedade como magistrado da Operação Lava Jato, Barros foi um dos investigados pelo mesmo esquema – conforme revelaram documentos do caso (confira aqui –, tornando a aproximação um capítulo surpreendente na política paranaense.

Contexto e Ironia: A Lava Jato, maior investigação de corrupção do país, condenou políticos e empresários entre 2014 e 2021. Moro, à época juiz federal, tornou-se símbolo do combate à impunidade, enquanto Barros, líder do governo Bolsonaro na Câmara em 2021, teve seu nome vinculado a suspeitas de desvios em contratos da Saúde – alegações que ele sempre negou. Agora, os dois compartilham não apenas o mesmo palanque, mas estratégias eleitorais.

Interesses em Jogo: Moro lidera as pesquisas para o governo do Paraná em 2026, segundo levantamento do Instituto Paraná Pesquisas. Já Barros, que já ocupou a Secretaria de Comércio do estado e mira o Palácio do Iguaçu há anos, busca fortalecer sua base. A federação entre os partidos permite a divisão de recursos do fundo eleitoral e amplia a rede de apoio, essencial em um estado fragmentado como o Paraná.

Pragmatismo ou conivência? Especialistas ouvidos pela reportagem destacam que a política é movida por “sobrevivência”.

“Não há inimigos permanentes, apenas interesses. Moro precisa de aliados locais, e Barros busca respaldo nacional”, analisa a cientista política Ana Cláudia Pereira, da UFPR. Nas redes, entretanto, a reação é polarizada: alguns apontam “cinismo”, outros celebram a “união por reformas”.

O que Esperar: Enquanto Moro evita comentar o passado “estamos focados no futuro”, Barros defende a parceria como “prioridade ao povo paranaense”. Resta saber se o eleitorado absorverá o discurso ou se a lembrança da Lava Jato persistirá como sombra. Uma coisa é certa: para esta aliança funcionar, será preciso mais do que fotos sorridentes.

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