A Sombra da Militarização: O Que Há Por Trás das Escolas Cívico-Militares no Paraná?


A recente e trágica morte da professora Silvaneide Monteiro Andrade em uma escola militarizada no Paraná jogou luz sobre um modelo de gestão que, embora defendido como solução para a disciplina e o desempenho, levanta sérias questões sobre seus reais impactos no ambiente educacional. O Professor Regis Clemente da Costa, em sua contundente reflexão, menciona a militarização de 312 escolas no estado, um número expressivo que merece um olhar mais aprofundado.
O modelo das escolas cívico-militares, impulsionado por governos em diversas esferas, propõe a gestão compartilhada entre civis e militares, com a presença de policiais ou membros das Forças Armadas na rotina escolar. Os defensores argumentam que essa abordagem melhora a disciplina, reduz a violência e eleva os índices de aprendizado. No Paraná, a iniciativa do governo Ratinho Junior se alastrou rapidamente, com a promessa de transformar o ambiente escolar.
No entanto, críticos como o Professor Regis Clemente da Costa apontam para as consequências negativas dessa militarização. A ênfase na disciplina rígida e na hierarquia pode sufocar a autonomia pedagógica dos professores e a criatividade dos alunos. A presença de agentes militares, com sua formação voltada para a segurança e a ordem, pode gerar um clima de intimidação e controle, distante da atmosfera de acolhimento e liberdade necessária para o desenvolvimento pleno.
Além disso, a militarização pode desviar o foco dos verdadeiros desafios da educação, como a falta de investimento em infraestrutura, a valorização dos profissionais da educação e a elaboração de currículos mais engajadores. Ao invés de abordar as causas profundas da indisciplina ou do baixo desempenho, a solução militarizada pode apenas mascarar os problemas, criando uma falsa sensação de ordem.
A morte da professora Silvaneide Monteiro Andrade em uma escola militarizada, embora as causas exatas ainda necessitem de apuração completa, levanta a perturbadora pergunta: até que ponto a pressão por “metas empresariais”, a vigilância constante e o ambiente de controle – características frequentemente associadas a esse modelo – contribuem para o adoecimento e a exaustão dos educadores? A escola, que deveria ser um local de acolhimento e aprendizado, pode se tornar, sob certas condições, um espaço de angústia e adoecimento.
O caso da professora Silvaneide serve como um doloroso lembrete de que o debate sobre as escolas cívico-militares não pode se limitar a números de desempenho ou estatísticas de disciplina. É preciso considerar o impacto humano, a saúde mental dos professores e o tipo de cidadão que se deseja formar em um ambiente que, para muitos, se assemelha mais a um quartel do que a uma instituição de ensino.

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