Vice-presidente Alckmin esclarece proposta: foco é na taxa de juros, não no cálculo da inflação
Em meio a especulações que ganharam força nas redes sociais, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, afirmou nesta segunda-feira (24) que não defende mudanças na metodologia de cálculo da inflação, como o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). A declaração ocorreu durante evento sobre competitividade industrial, onde o presidente em exercício sugeriu que o Banco Central (BC) considere excluir os preços voláteis de alimentos e energia ao definir a taxa básica de juros (Selic).
Contexto da fala
Alckmin argumentou que setores como alimentos e energia sofrem influências externas, como guerras e crises climáticas, o que tornaria sua inclusão no cálculo da Selic “menos eficaz” para o controle inflacionário. “Precisamos discutir se é possível focar em um núcleo da inflação mais estável para decisões de política monetária”, afirmou. A proposta, segundo especialistas, não alteraria o IPCA, índice oficial medido pelo IBGE, mas sim a estratégia de metas de inflação do BC.
Repercussão e desinformação
Apesar da explicação técnica, parte da imprensa e usuários nas redes interpretaram erroneamente que o governo planejava mudar o cálculo da inflação — hipótese descartada pelo Ministério do Desenvolvimento em nota: “Não há qualquer proposta de alteração na apuração do IPCA. A discussão é sobre critérios para a política monetária”.
Especialistas ponderam
Economistas ouvidos por veículos como Valor Econômico e CNN Brasil destacam que a ideia de desconsiderar itens voláteis não é nova. O próprio BC já calcula o IPCA-15 e o núcleo da inflação, que excluem alimentos in natura e energia. Para Bráulio Borges, economista da LCA Consultores, “a sugestão faz sentido técnico, mas pode gerar ruído político, especialmente em um momento de debate sobre a autonomia do Banco Central”.
Cenário atual
A Selic está em 11,25% ao ano, com o BC mantendo a taxa estável desde agosto de 2023. Já a inflação acumulada em 12 meses é de 4,08%, dentro da meta do governo (3% com tolerância de 1,5 ponto). Alckmin reforçou que a proposta visa reduzir o custo do crédito para estimular investimentos, alinhando-se ao discurso do Planalto sobre crescimento econômico.
Histórico de polêmicas
Em 2023, o governo Lula criticou publicamente a taxa de juros elevada, reacendendo debates sobre a independência do BC. A fala de Alckmin, porém, é a primeira vez que um representante do Executivo sugere mudanças operacionais na definição da Selic.
Para ficar de olho
O BC deve divulgar na próxima semana a ata do Copom (Comitê de Política Monetária), que trará detalhes sobre a avaliação do cenário econômico. Enquanto isso, o mercado monitora se a sugestão do vice-presidente influenciará as decisões futuras da autoridade monetária.