Na última semana, uma manifestação em Londrina (PR) chamou atenção ao exaltar a bandeira dos Estados Unidos, reacendendo um debate antigo: a relação assimétrica entre o Brasil e a potência norte-americana. Enquanto parte da sociedade brasileira cultiva uma admiração quase romântica pelo país, as ações recentes de Washington deixam claro que os interesses estadunidenses nunca abrem mão de sua prioridade máxima: proteger seus cidadãos e sua economia, ainda que isso signifique deixar aliados em segundo plano.
Tarifas e diplomacia: a frieza dos números
A postura dos EUA sob o governo Trump (2017-2021) exemplifica essa dinâmica. Em 2020, o então presidente impôs tarifas de 25% sobre o aço brasileiro, medida que impactou diretamente setores estratégicos do Brasil, como o agronegócio e a indústria. A decisão, justificada sob o argumento de “segurança nacional”, foi estendida até mesmo à Argentina, cujo presidente, Javier Milei, é aliado declarado de Trump. “Não há sentimentalismo na política externa dos EUA. Governos mudam, mas a defesa dos interesses nacionais é imutável”, analisa o cientista político João Ricardo Brandt, em entrevista ao Estadão.
Deportações em alta: brasileiros na mira
Os números recentes do ICE (Immigration and Customs Enforcement) reforçam a tese. Em 2023, mais de 2 mil brasileiros foram deportados dos EUA, um aumento de 30% em relação a 2022. A política de fronteiras rigorosas, mantida tanto por Democratas quanto Republicanos, não poupa nem mesmo quem busca refúgio. Caso emblemático é o de quatro brasileiros envolvidos nos ataques de 8 de janeiro em Brasília, presos no Texas ao tentar entrar ilegalmente no país. Detidos desde janeiro, aguardam deportação — ironicamente, para um país cujas instituições tentaram subverter.
Idealização vs. Realidade: o preço do sonho americano
O caso dos fugitivos ilustra um paradoxo: enquanto alguns veem os EUA como terra da liberdade, o governo local trata infratores com rigor técnico, sem concessões. “Há uma idealização perigosa. Os EUA são uma nação soberana, não um parque de diversões para quem desrespeita leis”, comenta a advogada de imigração Carla Mendes, em matéria do G1.
Para analistas, a lição é clara: o “amor” pelo gigante norte-americano raramente é recíproco. Enquanto o Brasil busca espaço em um mundo multipolar, a dependência de políticas externas alheias revela-se uma estratégia frágil. Como diria o ditado popular: “De boas intenções, os EUA estão cheios” — e o preço do afeto não correspondido pode ser alto demais.
(Fontes: Estadão, G1, Reuters, dados oficiais do ICE)