Enquanto países como Japão e Finlândia figuram consistentemente entre os líderes globais em qualidade educacional, o Brasil, apesar de tímidos avanços, permanece estagnado nas últimas posições dos rankings internacionais. A pergunta que ecoa é: por que a educação brasileira está tão distante desses modelos de excelência? A resposta passa por uma complexa teia de fatores, desde o investimento e a valorização profissional até as abordagens pedagógicas e as desigualdades sociais.
O Espelho do PISA: Uma Realidade Digna de Alerta
Os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) de 2022, divulgados em 2023, reiteraram a disparidade. Embora o Brasil tenha apresentado pequenas melhorias em Matemática, Leitura e Ciências, suas pontuações (384, 413 e 404, respectivamente) estão muito abaixo da média da OCDE e, consequentemente, dos patamares de excelência. Em contraste, Japão e Finlândia demonstram um desempenho robusto: o Japão, por exemplo, alcançou 536 em Matemática, 547 em Ciências e 516 em Leitura. A Finlândia, mesmo com um leve declínio recente, mantém resultados notavelmente superiores, com 507 em Matemática, 520 em Leitura e 522 em Ciências.
Esses números não são apenas estatísticas; eles refletem a preparação de futuras gerações para os desafios do século XXI.
Os Pilares do Sucesso: Lições de Japão e Finlândia
O que distingue os sistemas educacionais japonês e finlandês?
- Finlândia: Equidade, Bem-Estar e Professores de Elite: O modelo finlandês é pautado na igualdade de acesso à educação de alta qualidade para todos, desde a pré-escola à universidade, sem custos. Há um forte foco no bem-estar do aluno e na valorização da autonomia. Os professores, peças-chave desse sistema, passam por um rigoroso processo de seleção e exigem mestrado, desfrutando de alto prestígio social e autonomia pedagógica. A avaliação é responsabilidade do professor, sem testes nacionais padronizados, incentivando a colaboração em vez da competição e priorizando o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, criatividade e pensamento crítico.
- Japão: Disciplina, Valorização Docente e Envolvimento Comunitário: No Japão, o sistema educacional é marcado por altas expectativas acadêmicas, disciplina e um forte senso de responsabilidade coletiva. A valorização dos mestres é um pilar, e há um notável envolvimento dos pais, muitas vezes voluntários em atividades escolares. Os próprios alunos e professores são responsáveis pela limpeza das salas de aula, fomentando a organização e o senso de pertencimento. O sistema enfatiza a construção de relações sociais (como o conceito de “sempai-kohai”) e a preparação para a vida em sociedade e o mercado de trabalho, além do forte apoio governamental à pesquisa e desenvolvimento.
Os Entraves Brasileiros: Uma Construção de Desafios
O Brasil enfrenta uma série de desafios que se traduzem em um abismo educacional: - Desigualdade Socioeconômica: É o cerne do problema. A qualidade da educação varia drasticamente entre regiões e classes sociais, perpetuando ciclos de desvantagem.
- Valorização e Formação Docente: Professores brasileiros frequentemente lidam com baixos salários, falta de incentivos e recursos, além de desafios na formação continuada. A crescente proporção de docentes temporários em muitos estados agrava a questão.
- Qualidade do Ensino e Evasão: A alfabetização de baixa qualidade, aliada à alta evasão escolar, especialmente no Ensino Médio, impede o pleno desenvolvimento dos estudantes.
- Financiamento Defasado: O investimento por aluno no Brasil é significativamente inferior ao de países como a Finlândia. Enquanto o país nórdico investe cerca de 6% do PIB em educação pública, o Brasil mal consegue garantir remunerações dignas aos professores com seus atuais níveis de investimento.
- Infraestrutura e Políticas Públicas: Muitos desafios básicos persistem, como a falta de saneamento em escolas. Além disso, as constantes discussões e mudanças curriculares, como a flexibilização de disciplinas essenciais para a formação humanística (Filosofia, Artes e Sociologia), geram instabilidade e incerteza.
O Caminho à Frente: Um Compromisso Urgente
A distância entre a educação brasileira e a de nações como Japão e Finlândia não é insuperável, mas exige um compromisso multifacetado e de longo prazo. Aumentar o investimento efetivo por aluno, valorizar e qualificar o corpo docente, combater as desigualdades, adaptar currículos para o desenvolvimento integral e fomentar a participação da comunidade são passos cruciais para que o Brasil possa, um dia, encurtar esses “milhões de anos-luz” e trilhar o caminho rumo à excelência educacional.
Saiba Mais: - PISA 2022: Desempenho Educacional do Brasil na Avaliação – Árvore
- Veja por que a Finlândia está entre melhores do mundo em educação – Notícias R7
- Lições do Japão ao Brasil na Educação – BBC News Brasil
- Desafios da Educação Pública em 2024 – Educ21