A rede estadual de ensino do Paraná enfrenta uma crise que vai além da falta de recursos e da superlotação das salas de aula. Professores com vasta experiência denunciam práticas de precarização e favoritismo na distribuição de aulas, que têm impactado diretamente a qualidade do ensino e a saúde dos profissionais da educação. A situação, que já era crítica, agravou-se com a atuação do programa Parceiros da Escola e a implementação de colégios cívico-militares, gerando um cenário de descontentamento e mobilização entre os educadores.
Precarização e sobrecarga nas escolas
Com o aumento do número de alunos, seria esperado que houvesse uma ampliação no quadro de professores, pedagogos e agentes escolares. No entanto, a Secretaria de Educação do Paraná, liderada pelo secretário Roni Miranda, tem adotado medidas que, segundo os professores, precarizam o atendimento educacional. A redução do porte das escolas e a falta de contratações adequadas têm sobrecarregado os profissionais, que enfrentam turmas maiores e mais demandas administrativas.
A saúde dos educadores está em declínio, com muitos dependendo de tranquilizantes para lidar com o estresse e a pressão do trabalho. “Estamos doentes, física e mentalmente. A situação só piora a cada ano”, relata um professor que preferiu não se identificar. A perda salarial, que chega a quase 50% desde 2015, agrava ainda mais a insatisfação.
Parceiros da Escola: gestão ou interferência?
O programa Parceiros da Escola, inicialmente apresentado como uma iniciativa para melhorar a gestão administrativa e de infraestrutura das unidades escolares, tem sido alvo de críticas. Professores denunciam que as instituições privadas parceiras estão interferindo na escolha de profissionais, uma atribuição que deveria ser exclusiva dos núcleos regionais de educação. “Eles estão escolhendo quem entra e quem fica de fora, o que é uma violação da impessoalidade na gestão pública”, afirma uma fonte anônima.
Além disso, há relatos de que diretores de escolas estão reservando vagas para profissionais de sua preferência, muitas vezes baseados em relacionamentos pessoais ou afetivos. “Tem professor que nem apareceu no leilão de aulas e acabou pegando uma vaga, enquanto outros que estavam na frente ficaram sem aulas”, revela um educador.
Colégios cívico-militares e a exclusão de professores críticos
Nas escolas tradicionais que não aderiram ao programa Parceiros da Escola ou ao modelo cívico-militar, criou-se um ambiente de exclusão para professores com pensamentos críticos. Regras internas têm dificultado o acesso desses profissionais às aulas, enquanto diretores são acusados de favorecer candidatos alinhados a seus interesses. “É uma situação grave, que precisa ser investigada”, afirma um representante do movimento de professores que está se organizando para denunciar o caso ao Ministério Público do Paraná.
Mobilização e denúncias
Professores de várias cidades do Paraná, incluindo Curitiba, Ponta Grossa, Londrina, Maringá, Cascavel e Foz do Iguaçu, estão se reunindo para formalizar denúncias contra as irregularidades na distribuição de aulas e a atuação dos Parceiros da Escola. O grupo planeja entregar um dossiê ao Ministério Público, detalhando casos de favorecimento e a interferência indevida de entidades privadas na gestão das escolas.
“O critério de impessoalidade foi quebrado, e isso é inaceitável. Precisamos de transparência e justiça na educação”, declara um dos organizadores do movimento. A expectativa é que as denúncias resultem em investigações e, se comprovadas as irregularidades, na punição dos responsáveis.
A crise na educação do Paraná reflete um sistema que prioriza a gestão privada e o controle sobre a qualidade do ensino e o bem-estar dos profissionais. Enquanto o governo estadual celebra avanços como a ampliação de cursos técnicos e a distribuição de kits escolares, os professores enfrentam uma realidade de precariedade, favoritismo e desrespeito aos seus direitos. A mobilização dos educadores é um sinal de que a luta por uma educação pública de qualidade e justa está longe de terminar.
Referências: