Um levantamento realizado entre os dias 11 e 18 de novembro pelo jornal Estadão revelou que pelo menos 11 Estados brasileiros enfrentam falta de vacinas essenciais. A escassez afeta imunizantes de diferentes tipos, incluindo aqueles voltados para a prevenção da Covid-19, acendendo o alerta sobre a gestão da saúde pública no país.
As secretarias estaduais de saúde relataram dificuldades no abastecimento de imunobiológicos variados, o que impacta a execução de calendários de vacinação e coloca em risco a imunização da população contra doenças graves. Entre os imunizantes citados como escassos estão vacinas fundamentais como as infantis, de hepatite e a BCG.
Ministério da Saúde nega desabastecimento
Apesar das denúncias feitas pelos Estados, o Ministério da Saúde afirmou, em nota oficial, que “não há falta de vacinas” no Brasil. Segundo a pasta, o país enfrenta “desafios momentâneos” na distribuição devido a problemas com fornecedores e à produção limitada em escala global. A resposta incluiu a sugestão de substituição por imunizantes alternativos em algumas localidades, mas especialistas questionam a viabilidade dessa estratégia diante das limitações práticas.
Atrasos frequentes e desconfiança na gestão
Os problemas com fornecimento de vacinas não são inéditos no Brasil. Nos últimos anos, episódios de falta de imunizantes têm sido registrados em diferentes regiões do país, levantando dúvidas sobre o planejamento e a logística federal. “Há um problema estrutural na forma como as vacinas são adquiridas e distribuídas, e isso prejudica campanhas que são essenciais para a saúde pública”, aponta um gestor estadual que preferiu não se identificar.
A ausência de doses ocorre em um momento sensível, quando o Brasil tenta recuperar os índices de cobertura vacinal, que estão em declínio há anos. Especialistas alertam que a falta de imunizantes pode ampliar a vulnerabilidade da população a surtos de doenças erradicadas ou controladas no passado, como o sarampo e a poliomielite.
Implicações políticas e sociais
A escassez de vacinas gera uma nova frente de críticas ao governo federal, que já enfrentou desgastes em crises anteriores relacionadas à pandemia. Para entidades como a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), a falta de vacinas compromete a confiança da população no Sistema Único de Saúde (SUS) e fragiliza a adesão às campanhas futuras.
“Se a população percebe que não há vacinas disponíveis, isso desestimula as pessoas a buscarem os postos de saúde. É um ciclo vicioso que precisamos interromper urgentemente”, destacou um membro da entidade.
Medidas urgentes são necessárias
Diante do cenário, gestores locais e especialistas têm pressionado o Ministério da Saúde por soluções concretas e uma comunicação mais transparente sobre a situação. Entre as demandas estão ajustes na logística de distribuição, a ampliação de contratos com fornecedores internacionais e a priorização da produção nacional por instituições como o Instituto Butantan e a Fiocruz.
Enquanto isso, milhões de brasileiros podem ficar desprotegidos contra doenças graves, expondo fragilidades na estrutura de um sistema que já foi considerado referência mundial em imunização.