Crise política em Portugal: governo de Montenegro perde voto de confiança e país caminha para novas eleições

O Parlamento de Portugal rejeitou, nesta terça-feira (11), a moção de confiança no governo do primeiro-ministro Luís Montenegro, líder da coligação de centro-direita Aliança Democrática (AD). A decisão, aprovada por maioria dos deputados, coloca o país à beira de sua terceira eleição legislativa em três anos, aprofundando a instabilidade política que persiste desde 2022.

Montenegro, que assumiu o cargo há menos de um ano após vencer as eleições de março de 2024 por uma estreita margem, enfrentou uma crise acelerada por acusações de conflito de interesses. Investigações da imprensa local revelaram que uma empresa de consultoria ligada à sua família mantém contratos com o governo, levantando suspeitas sobre o uso indevido de influência política. O caso, amplamente repercutido pela mídia portuguesa, foi o estopim para que partidos de oposição, liderados pelo Partido Socialista (PS), articulassem a moção de desconfiança.

Após a derrota no plenário, a bola está agora com o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que tem até sexta-feira (14) para decidir pela dissolução do Parlamento e convocar novas eleições. Em declarações prévias, Rebelo de Sousa já sinalizou que, caso o governo perdesse o voto, as urnas poderiam ser convocadas para maio ou junho deste ano.

Contexto de instabilidade
Portugal vive um cenário de fragmentação política desde 2022, quando a queda do governo socialista de António Costa iniciou um ciclo de eleições antecipadas. A vitória de Montenegro em 2024, com apenas 28% dos votos, obrigou-o a formar um governo minoritário, dependente de frágeis alianças parlamentares. Analistas apontam que a polarização entre esquerda e direita, somada a escândalos recentes, minou a capacidade de governabilidade.

Dados do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa indicam que a desconfiança da população no Legislativo atingiu 67% em 2024, o maior índice em uma década. A perspectiva de novas eleições, em um contexto de desaceleração econômica e tensões sociais, acende alertas sobre os riscos de paralisia em políticas públicas essenciais, como saúde e habitação.

O que esperar agora?
Especialistas ouvidos pela agência Lusa projetam um cenário incerto: caso o presidente convoque eleições, pesquisas sugerem que nenhum partido obteria maioria absoluta, perpetuando a necessidade de coalizões instáveis. Enquanto isso, Montenegro permanece em funções em caráter provisório, mas sem poder implementar novas medidas.

A crise portuguesa reflete um padrão europeu de volatilidade política, observado em países como Holanda e França. Para o cidadão comum, a preocupação é imediata: “Já perdemos a conta de quantos governos passaram por aqui. Precisamos de estabilidade para resolver problemas reais”, desabafou um comerciante de Lisboa em entrevista ao Diário de Notícias.

A próxima semana deve definir os rumos do país, com Rebelo de Sousa sob pressão para evitar um prolongamento da incerteza. Uma coisa é certa: Portugal volta às urnas em um momento crítico, onde cada voto carregará o peso da esperança em um recomeço.

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