‘Cruz da Morte’ para a bolsa americana? O sinal técnico que divide o mercado
Um padrão técnico conhecido como “Cruz da Morte” — quando a média móvel de 50 dias (MM50) cruza para baixo a média de 200 dias (MM200) — acendeu um alerta no S&P 500 nesta semana, levantando debates sobre se a bolsa americana enfrentará uma queda prolongada. A formação, historicamente associada a tendências de baixa, ocorreu após o índice perder 11% em dois dias no início de abril, pressionado por tensões comerciais e sinais de desaceleração econômica .
O que é a “Cruz da Morte” e por que importa?
A Cruz da Morte reflete uma mudança no sentimento do mercado: a MM50, que representa o momentum de curto prazo, perde força frente à MM200, indicadora de tendências de longo prazo. No caso do S&P 500, a MM50 fechou em 5.748 pontos na segunda-feira (14/04), abaixo dos 5.754 da MM200 — a primeira vez desde fevereiro de 2023 . Para o Nasdaq, o sinal também apareceu, reforçando preocupações .
Dados históricos: Um aviso confiável?
Embora o nome seja assustador, análises mostram que o padrão nem sempre precede quedas catastróficas:
- Em 54% dos 24 casos registrados desde 1970, o pior da queda já havia ocorrido antes da Cruz da Morte .
- Em 46% das vezes, o S&P 500 caiu em média 19% após o sinal, como em 2000 e 2007 .
- Curiosamente, 30 dias após o cruzamento, o índice subiu 60% das vezes, com ganho médio de 0,8% .
Adam Turnquist, estrategista-chefe da LPL Financial, destaca: “Historicamente, é melhor comprar do que vender após a Cruz da Morte. Muitas vezes, ela marca o fim do pânico, não o início” .
Contexto atual: Por que o mercado está nervoso?
- Concentração em tech: Mais de 50% dos ganhos do S&P 500 em 2024 vieram das “Magnificent Seven” (Apple, Microsoft, Nvidia, etc.), mas a dispersão de lucros é fraca — apenas 357 das 500 empresas tiveram crescimento em 2024, abaixo das 455 esperadas .
- Supervalorização: O índice preço/valor contábil do S&P 500 superou o pico da bolha das pontocom em 2000, com ações medianas 27,7% abaixo de suas máximas .
- Riscos macro: Tarifas comerciais agressivas de Trump, que já causaram quedas de 5% nos futuros de NY , e projeções de PIB negativo (-2,4%) no 1º trimestre amplificam o medo de estagflação .
Especialistas divergem: V-shaped recovery ou crise prolongada?
- Otimistas: Sinais de capitulação (venda por pânico) recentes, como picos no índice de volatilidade VIX, sugerem que o fundo do poço pode ter sido atingido. Turnquist compara o cenário a 2018 e 2020, com recuperação em “V” .
- Cautelosos: Ações como Tesla, que formaram a Cruz da Morte na segunda-feira (15/04), e a queda de 7% da Nvidia após o sinal em março mostram vulnerabilidade setorial .
- Bearish extremo: Analistas do UBS projetam queda de 1,5 a 2 pontos no PIB dos EUA em 2025 se as tarifas persistirem, com inflação chegando a 5% .
Ouro sobe, risco aumenta
O preço do ouro, tradicional porto seguro, ultrapassou US$ 3.300/onça, refletindo aversão ao risco. Paralelamente, fundos quantitativos aceleraram vendas técnicas, pressionando ainda mais as ações .
Conclusão: O que fazer agora?
Enquanto dados históricos sugerem cautela sem pânico, o contexto atual — marcado por incertezas políticas, concentração de ganhos e avaliações elevadas — exige estratégias defensivas. Para investidores de longo prazo, a recomendação é evitar decisões impulsivas: “Vender agora pode significar perdas irreversíveis se houver recuperação”, alerta o relatório da XP Investimentos .
Fontes: Reuters , Business Insider , Portal Tela , XPI Investimentos , Valor Investe .