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A recente proposta da APP-Sindicato de uma semana de “greve de plataformas” no ensino gerou uma onda de controvérsia e ceticismo entre os professores da rede pública paranaense. A medida, que visa protestar contra as condições de trabalho e o uso excessivo de plataformas digitais, foi recebida com desconfiança por muitos educadores, que apontam sua ineficácia e a necessidade de ações mais contundentes.
As discussões, amplamente divulgadas em grupos e redes sociais de professores, revelam um profundo descontentamento com a atual gestão e as políticas educacionais. A tônica geral é de que a proposta da APP-Sindicato é um “deboche” ou uma medida “isentona”, incapaz de gerar o impacto necessário para forçar mudanças significativas.
Críticas Ferrenhas: “Isso Não Funciona!”
A principal crítica levantada pelos professores é a fragilidade da ação individual e a falta de uma estratégia de greve geral. “Não quero ser chato, mas sendo chato, isso não funciona. Tem que construir uma greve geral. Tem que gastar dinheiro do sindicato. Mobilizar os professores”, desabafa um educador. A ideia de que a “greve de plataformas” não passaria de um paliativo, sem força para confrontar o sistema, é um consenso.
A hostilidade em relação à gestão e àqueles que, segundo os professores, “pisam nas escolas” é evidente. Há relatos de colegas que “correm para contar à direção” sobre atrasos ou saídas antecipadas, criando um clima de desconfiança e dificultando a união da categoria. A pressão para preencher o Registro de Classe Online (RCO) em tempo real é outro ponto de atrito, com professores sendo cobrados por responder rapidamente mesmo fora do horário de vínculo.
O Nó do RCO e a Dependência das Plataformas
O RCO emerge como um ponto central das preocupações. O preenchimento do conteúdo na hora é visto como uma exigência absurda, com ameaças de “queda de índice” e aulas que “não contam”. A vinculação dos contratos de aulas extras e do Processo Seletivo Simplificado (PSS) às plataformas digitais torna a ação individual ainda mais arriscada e ineficaz. “O ponto é o RCO, o contrato das extras estão vinculados às plataformas, assim como o PSS… a ação não pode ser individual, nunca, do contrário é frágil”, observa um professor. A sugestão de “não preencher um mês o RCO para ver” demonstra a exasperação da categoria com essa ferramenta de controle.
A Luta por uma Greve “Séria e Bem Fundamentada”
Apesar do ceticismo em relação à proposta da APP-Sindicato, a vontade de uma greve “séria e bem fundamentada” é unânime. No entanto, a desconfiança em relação aos “donos dos sindicatos e partidos comprometidos”, como o PT e figuras como Camilo Santana (ministro da Educação), é um entrave. “As medidas administrativas são bem poderosas. Pra acuar em todas as medidas só com greve séria e bem fundamentada. Com os que são donos dos sindicatos e partidos comprometidos”, comenta um professor, evidenciando a complexidade do cenário político e sindical.
A pergunta provocativa sobre quantos dias de “greve de plataformas” o governador Ratinho Jr. “concederia” à APP-Sindicato para a classe ilustra a percepção de que a proposta do sindicato pode ser vista como uma manobra sem real poder de negociação.
A polarização em torno da proposta da APP-Sindicato reflete a urgência de um debate mais amplo sobre as condições de trabalho dos professores e a efetividade das ações sindicais. Será que a “greve de plataformas” é um primeiro passo para uma mobilização maior ou apenas um “deboche” que aprofunda o descontentamento da categoria?