Denúncia de “mau funcionamento” escancara crise e alerta para risco de fechamento em meio à greve


Em meio à greve que já se arrasta por oito dias na Rede Municipal de São Paulo, a EMEI (Escola Municipal de Educação Infantil) Patrícia Galvão, localizada no Ipiranga, foi alvo de uma visita inesperada e, para a direção, carregada de tom de intimidação. Na última quinta-feira, 24, três representantes da DRE (Diretoria Regional de Educação) Ipiranga compareceram à unidade sob a alegação de terem recebido uma denúncia de que a escola não estaria “funcionando direito” devido à ausência de gestão e supervisão em decorrência da paralisação.
Segundo relato da diretora Sandra Regina da Silva Brugnoli Bouças, os representantes da DRE solicitaram o livro ponto para registrar a presença ou ausência dos funcionários em greve e portavam uma lista de nomes de contratados para verificar se estavam trabalhando. A visita, que não gerou nenhum termo formal, consistiu em uma breve inspeção das instalações antes da partida dos representantes.
A ação da DRE gerou profunda indignação na direção da EMEI. Em um comunicado contundente, a diretora Sandra Brugnoli Bouças questiona a prioridade da fiscalização em um momento de greve, enquanto as condições precárias do prédio onde a escola está alocada impactam diretamente a qualidade do atendimento oferecido às crianças.
“Temos vivenciado as piores condições de trabalho no prédio em que fomos alocados, o que tem gerado atendimento muito distante do que poderia ser considerado dentro de padrões normalizados, mas é no período de greve que recebemos uma visita para a identificação de que a ‘Unidade não está funcionando direito’”, desabafa a diretora.
A denúncia de “mau funcionamento”, para a comunidade escolar, expõe problemas estruturais graves que antecedem a greve e comprometem o desenvolvimento pleno das crianças. A EMEI Patrícia Galvão opera em um espaço inadequado para a Educação Infantil, com salas apertadas e mal iluminadas, acessibilidade precária devido a escadas, cozinha e refeitório com infraestrutura deficiente (comportando apenas uma turma por vez).
Outro ponto crítico apontado pela direção é o atraso no início do TEG (Tempo de Experiência e Grupo), que deixou cerca de 40 crianças sem acesso à escola por dois meses. A falta de espaço para materiais pedagógicos e a ausência de internet administrativa, que obriga os funcionários a usar seus próprios dados móveis, são outros obstáculos diários.
A situação se agrava com problemas de salubridade: vazamentos de esgoto nos banheiros interditados ocorrem sempre que a louça é lavada na cozinha, gerando odores insuportáveis para crianças e funcionários.
Diante desse cenário, a diretora Sandra Brugnoli Bouças enfatiza que a greve não é a causa do “mau funcionamento”, mas sim uma tentativa de dar visibilidade às condições inaceitáveis a que estão submetidos e pressionar o poder público por melhorias. “Esta greve não tem como pauta única a questão salarial. Ela é, antes de tudo, uma tentativa de defesa da escola pública”, declara.
A diretora faz um apelo urgente por apoio de outras escolas, instituições, vereadores, comunidades e Conselhos Escolares para impedir o que ela considera ser o interesse do atual governo: o fechamento da EMEI Patrícia Galvão.
“Temos consciência de que não se trata apenas de mais um ano para as crianças, mas sim ‘o ano delas na Educação Infantil’, o que tem nos mobilizado a buscar caminhos possíveis”, afirma Sandra Brugnoli Bouças, ressaltando o apoio recebido de outras EMEIs do Território Educativo das Travessias na luta por melhores condições.
A visita da DRE Ipiranga à EMEI Patrícia Galvão, longe de intimidar, acendeu um alerta ainda maior sobre a fragilidade da infraestrutura de algumas unidades da rede municipal e a urgência de um olhar mais atento e investimentos por parte da administração pública, mesmo após o fim da greve. A comunidade escolar teme que a denúncia de “mau funcionamento” seja o prenúncio de um fechamento que trará prejuízos irreparáveis para a educação das crianças do Ipiranga.

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