Alegações sobre primeira-dama brasileira viralizaram em redes sociais, mas checagem revela manipulação de conteúdo e ausência de provas. Especialistas alertam para desinformação política.
A primeira-dama do Brasil, Rosângela “Janja” da Silva, foi alvo de uma onda de desinformação nas últimas semanas, após a circulação de um vídeo que a acusava de ter sido flagrada embriagada durante viagem oficial ao Japão e de ter “virado piada no mundo todo”. A alegação, porém, é falsa e não possui qualquer embasamento em evidências confiáveis, conforme apurou esta reportagem com base em checagens de fatos e análises de conteúdo .
A origem do boato e a manipulação do vídeo
O conteúdo viral surgiu inicialmente em perfis alinhados a grupos bolsonaristas, associando imagens de uma entrevista de Janja à BBC a comentários jocosos de um influenciador político. No vídeo, a primeira-dama rebate críticas sobre a falta de transparência de sua agenda no Japão, mas em nenhum momento aparece embriagada ou em situação constrangedora .
A narrativa falsa ganhou força com a inclusão de alegações adicionais, como a de que o ministro do STF Alexandre de Moraes teria “passado mal” durante o episódio — outra informação sem comprovação . Especialistas em desinformação apontam que a estratégia busca associar Janja a estereótipos negativos, aproveitando-se do clima político polarizado.
O que realmente aconteceu no Japão?
Janja viajou ao Japão em 18 de março, uma semana antes do presidente Lula, integrando uma equipe precursora para reduzir custos logísticos, conforme explicou em entrevista à BBC. Ela ficou hospedada na residência do embaixador brasileiro e participou de agendas como um encontro com mulheres brasileiras residentes no país e a inspeção do pavilhão brasileiro na Expo Osaka 2025 .
A falta de divulgação prévia de sua agenda, no entanto, gerou críticas da oposição, que questionou o uso de recursos públicos e a transparência de seus compromissos. Janja respondeu às acusações afirmando que “nunca houve falta de transparência” e destacando a economia com passagens aéreas e hospedagem .
Por que a fake news ganhou repercussão?
A disseminação do boato está ligada a dois fatores principais:
- Contexto político: Janja tem sido alvo frequente de ataques de oposicionistas, especialmente após gastos com viagens anteriores (como uma comitiva de R$ 292 mil à Itália) e a criação de uma equipe informal de assessoria custando R$ 160 mil mensais .
- Estratégia de descredibilização: A narrativa explora estereótipos de gênero, associando a primeira-dama a comportamentos considerados “inapropriados” para uma figura pública, tática comum em campanhas de difamação .
Resposta oficial e checagem internacional
Nenhum veículo de imprensa internacional de grande porte noticiou o suposto episódio de embriaguez. A BBC, citada no vídeo manipulativo, confirmou que a entrevista original tratava apenas de temas políticos, sem qualquer menção a situações inadequadas .
Organizações de fact-checking, como o Boatos.org, classificaram a história como falsa, destacando a ausência de imagens ou testemunhos que corroborassem a acusação . Procurada, a Secretaria de Comunicação da Presidência não se manifestou sobre o caso, mas fontes próximas afirmam que o governo monitora ataques coordenados nas redes.
Desinformação como arma política
O caso evidencia como figuras públicas — especialmente mulheres — são alvos preferenciais de campanhas de desinformação. Para evitar a propagação de mentiras, especialistas recomendam verificar a fonte das informações e buscar confirmação em veículos jornalísticos reconhecidos.
Enquanto isso, Janja segue em viagem oficial à França, onde participará de uma cúpula sobre nutrição a convite do governo francês, conforme agenda divulgada pela Presidência .
Fontes consultadas: Boatos.org , Folha de S.Paulo , O Globo , Jornal da Cidade Online , Crusóe .