A história de Maria (nome fictício), uma mãe do Rio de Janeiro, expõe uma realidade ainda dolorosamente comum no Brasil: o racismo estrutural que invade até os primeiros passos da infância. Após meses de observação e relatos angustiantes da filha, ela decidiu retirar a menina de 3 anos de uma creche particular da Zona Sul após testemunhar episódios recorrentes de exclusão. “As professoras a isolavam durante as brincadeiras, diziam que ela ‘não sabia se comportar’ e a proibiam de interagir com outras crianças. Até no parquinho a vigiavam como se fosse uma ameaça”, desabafa.
Segundo Maria, a gota d’água foi quando a menina chegou em casa perguntando por que “ser preta era feio”. “Ela repetiu frases que ouviu das próprias educadoras. Como mãe, meu papel é protegê-la, mesmo que isso signifique confrontar instituições que deveriam cuidar dela”, afirma. A família registrou um boletim de ocorrência por injúria racial e busca apoio jurídico para responsabilizar a instituição.
Contexto e Repercussão
Casos como esse não são isolados. Dados do Disque 100 (2022) mostram que 63% das denúncias de racismo no ambiente escolar envolvem crianças de até 5 anos. Especialistas alertam para a naturalização do preconceito na primeira infância. “A escola é um espelho da sociedade. Quando uma criança negra é excluída, estamos reproduzindo violências que marcarão sua autoestima para sempre”, explica Luana Silva, pedagoga e ativista antirracista.
A creche, por sua vez, divulgou uma nota afirmando que “repudia qualquer forma de discriminação” e que abriu sindicância interna. Enquanto isso, a pequena protagonista desta história agora brinca em casa, longe dos olhares que a julgavam pela cor de sua pele. Maria, porém, não pretende silenciar: “Minha filha merece crescer em um mundo onde ela não precise provar seu valor a cada sorriso ou brincadeira. Vou lutar por isso, mesmo que doa”.
Engajamento e Reflexão:
O caso reacende o debate sobre a implementação efetiva da Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira nas escolas. Para famílias e educadores, a pergunta persiste: até quando a infância negra será roubada pelo racismo?