O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrenta dificuldades para expandir seu apoio popular, especialmente em um cenário econômico desafiador e de expectativas crescentes entre os eleitores. A avaliação é de Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, que participou do programa WW Especial, apresentado por William Waack. Segundo Meirelles, o governo precisa priorizar temas que impactam diretamente o cotidiano da população brasileira, como inflação, emprego e poder de compra, em vez de focar em pautas internacionais que têm pouca ressonância com o eleitorado.
“Enquanto o Lula for falar mais da Venezuela do que da picanha, a chance dele ampliar o seu eleitorado é muito pequena”, afirmou o especialista, em uma crítica clara às recentes declarações do presidente sobre temas externos, incluindo o papel do Brasil na mediação de conflitos globais e a relação com governos controversos, como o da Venezuela. Para Meirelles, a ênfase em questões econômicas internas, que afetam diretamente os brasileiros, é essencial para consolidar o apoio popular e manter a relevância política do governo.
A fala de Meirelles reflete um sentimento que vem ganhando força entre analistas políticos e econômicos: a percepção de que o governo Lula precisa reencontrar uma narrativa focada na economia do dia a dia, como o aumento do poder de compra, a geração de empregos e a contenção da inflação, para garantir que promessas como a famosa “picanha no prato” não se tornem apenas um símbolo frustrado.
A crítica do mercado e o desafio do governo
Segundo o especialista, o mercado financeiro também exerce pressão sobre o governo por um projeto econômico que dialogue mais com as diretrizes defendidas pelo candidato derrotado nas últimas eleições, que prometia uma gestão mais liberal e alinhada aos interesses empresariais. Essa insatisfação do mercado é acompanhada de um desejo por maior previsibilidade fiscal e maior protagonismo do setor privado, algo que não parece estar no radar imediato da atual administração.
Por outro lado, Meirelles ponderou que há sinais de que o governo está ajustando sua rota. “Eu sinto que eles já aprenderam”, disse, sugerindo que a administração federal começa a compreender a necessidade de redirecionar esforços para pautas econômicas que falem diretamente ao eleitor.
Polarização e comunicação como entraves
A dificuldade de Lula em expandir sua base de apoio não é apenas uma questão econômica. A polarização política continua sendo um dos maiores obstáculos. Setores da sociedade que rejeitam o governo atual tendem a se agarrar à narrativa de que o PT está mais preocupado com sua base ideológica do que com uma gestão técnica. Para muitos, a comunicação do governo em relação às suas políticas ainda não conseguiu transmitir confiança de que as soluções estão a caminho.
Em meio a esses desafios, a oposição tenta explorar ao máximo as insatisfações populares. Discursos sobre o “fracasso da picanha prometida” ou o aumento do custo de vida tornam-se armas para desgastar a imagem do presidente.
O que está em jogo
Lula chega ao fim do ano em uma posição complexa. Sua liderança global, vista por aliados como um trunfo, pode estar minando sua popularidade interna, caso continue a se sobrepor a pautas de interesse imediato dos brasileiros. A crescente impaciência de parte do eleitorado, aliada às dificuldades de comunicação do governo, reforça a necessidade de Lula priorizar um projeto econômico sólido, capaz de reconquistar a confiança não apenas do mercado, mas também das famílias que ainda esperam uma melhora palpável em suas condições de vida.
O recado dos especialistas e da opinião pública é claro: menos Venezuela, mais picanha.