O Partido Liberal (PL) e o ex-presidente Jair Bolsonaro deram início nesta sexta-feira (11) à caravana Rota 22, que percorrerá o Brasil com o objetivo declarado de “ouvir a população” e “buscar soluções” para problemas regionais. A estreia ocorreu no Rio Grande do Norte, estado governado pelo PT e considerado reduto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em uma estratégia que evoca as históricas Caravanas da Cidadania petistas dos anos 1990 .
Agenda no RN: simbolismo e obras polêmicas
A primeira etapa da Rota 22 incluiu visitas a três cidades potiguares:
- Acari: Conhecida como “Cidade da Moda”, Bolsonaro visitou um polo têxtil financiado durante seu governo, com investimentos de R$ 8 milhões anuais previstos para o setor .
- Jucurutu: O ex-presidente inspecionou a Barragem de Oiticica, obra iniciada em 2013 sob Dilma Rousseff, continuada por Michel Temer e concluída por Lula em 2023. A estrutura, que beneficia 750 mil pessoas, foi alvo de disputa política recente, com Lula destacando que não havia recursos para finalizá-la em 2023, enquanto aliados de Bolsonaro ressaltam que a obra estava 93% concluída em seu governo .
- Pau dos Ferros: Encerrou o dia com um seminário de lançamento oficial do projeto, reforçando o discurso de “combate ao atraso do PT” .
Estratégia eleitoral e paralelos com o PT
A Rota 22 não esconde seu viés político. O secretário-geral do PL, senador Rogério Marinho (RN), afirmou que o projeto visa “capacitar lideranças locais” e “preparar o terreno para 2026”, ano em que Bolsonaro, atualmente inelegível, não poderá concorrer . A escolha do Nordeste é simbólica: na eleição de 2022, Lula obteve 69,34% dos votos na região, mas uma pesquisa recente na Bahia apontou empate técnico entre Lula (19,9%) e Bolsonaro (17%) em intenções espontâneas de voto para 2026 .
O formato da caravana ecoa as Caravanas da Cidadania de Lula, que entre 1993 e 2003 percorreram 400 cidades para mapear demandas populares e formatar políticas petistas. Em 2017, Lula retomou a iniciativa como “Lula pelo Brasil”, interrompida após sua prisão em 2018 .
Críticas ao governo e mobilização pela anistia
Além do foco em “soluções concretas”, a Rota 22 integra uma estratégia mais ampla de mobilização da base bolsonarista. Desde março, o ex-presidente realiza atos pelo país para pressionar pela anistia aos presos de 8 de janeiro e criticar o governo Lula, cuja desaprovação atingiu 53,6% em março, segundo o AtlasIntel . No RN, equipes do PL já visitaram 167 municípios para mapear demandas e destacar ações do partido .
Próximos passos e desafios
A caravana deve seguir para outros estados nordestinos, como Pernambuco e Bahia, antes de expandir para outras regiões. O desafio é reconquistar espaços perdidos para o PT, especialmente no Nordeste, enquanto Lula intensifica agendas em estados estratégicos como Minas Gerais, onde disputa influência com o governador Romeu Zema (Novo) .
Conclusão: A Rota 22 marca a tentativa de Bolsonaro de manter relevância política e reescrever narrativas sobre seu legado, enquanto o PL busca se consolidar como principal força oposicionista. O sucesso do projeto dependerá de sua capacidade de traduzir o discurso anti-PT em propostas concretas — e de evitar que as críticas ao governo federal soem como “promessas vazias”, termo ironicamente usado pelo próprio ex-presidente .