Formatura em suspense: brasileiros de Harvard vivem angústia com políticas de Trump às vésperas da cerimônia


Às vésperas de suas cerimônias de formatura, marcadas para esta semana, estudantes brasileiros da prestigiosa Universidade de Harvard enfrentam um cenário de profunda incerteza e apreensão devido às recentes medidas implementadas pelo governo Trump. A comunidade de milhares de alunos e ex-alunos brasileiros ligados à instituição foi surpreendida por anúncios que geraram medo e incredulidade, como a decisão de proibir a universidade de matricular estudantes estrangeiros e revogar vistos estudantis de quem atualmente frequenta alguma de suas treze escolas. Embora uma decisão judicial tenha suspendido liminarmente a medida, a instabilidade jurídica deixa os futuros graduados em compasso de espera.
“Recebi uma notícia de que teoricamente Harvard não pode ter mais alunos internacionais. Fiquei com medo e sem entender se daria tempo de transferir meu visto de volta para Columbia, como que isso ia acontecer, como que isso me afetava. Sem previsão”, relata um estudante brasileiro, refletindo a confusão e o temor que se instauraram no campus. A incerteza paira não apenas sobre aqueles que ainda não concluíram o curso e se questionam sobre a necessidade de transferência para outras universidades, sob o risco de perder seus vistos, mas também sobre os recém-formados.
Para Eduardo Vasconcellos, estudante brasileiro com cerimônia de graduação iminente, a situação é revoltante. “É uma indignação em torno do absurdo, de uma decisão que beira a insanidade”, desabafa. A preocupação se estende para além da formatura em si, impactando diretamente o futuro profissional desses jovens talentos. Muitos, como Vasconcellos, possuem ofertas de trabalho nos Estados Unidos, mas temem perder a permissão de trabalhar caso as políticas de Trump prevaleçam. “Tenho uma oferta de trabalho em Nova York. Se o Trump vencer [a disputa judicial], nós perdemos a permissão de trabalhar nos Estados Unidos. O nosso visto de trabalho, assim que saímos da faculdade, é afiliado ao nosso visto estudantil. Há estudantes hoje que já se formaram e estão no mercado de trabalho”, explica o estudante.
A própria Universidade de Harvard manifestou sua indignação, classificando a decisão do governo como “ilegal” e alertando para o “caos” gerado no campus às vésperas de uma importante celebração para a comunidade acadêmica. A medida afetaria diretamente os quase 7 mil estudantes estrangeiros matriculados na universidade no último ano letivo, representando mais de 27% do corpo discente.
Pesquisadores brasileiros que já passaram por Harvard também se pronunciaram, como o cientista político e pesquisador sênior da Arko Advice, Christopher Garman, que classificou a medida como “despropositada e equivocada”. Segundo ele, a decisão, mesmo que temporariamente suspensa, prejudica a imagem do próprio governo americano ao criar insegurança jurídica para estudantes de todo o mundo.
O governo Trump também ordenou a suspensão da emissão de vistos para estudantes em todos os consulados dos Estados Unidos ao redor do mundo, intensificando ainda mais a apreensão entre aqueles que planejavam iniciar seus estudos no país. Essa medida, divulgada pela agência Reuters, aumenta a sensação de que os Estados Unidos estão fechando as portas para o talento internacional.
A comunidade brasileira em Harvard, assim como milhares de estudantes estrangeiros em outras instituições americanas, acompanha atentamente os desdobramentos legais e políticos, na esperança de que a razão prevaleça e seus planos para o futuro não sejam drasticamente alterados por decisões consideradas por muitos como arbitrárias e xenófobas. A incerteza, no entanto, paira no ar, transformando a expectativa da formatura em um misto de ansiedade e apreensão para esses jovens brasileiros brilhantes.

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