Uma nova frente na guerra comercial entre Estados Unidos e China está se desenrolando em um terreno inesperado: o TikTok. Vídeos de fornecedores chineses viralizaram na plataforma, expondo supostos bastidores da produção de bolsas de luxo como as icônicas Birkin da Hermès e modelos da Louis Vuitton. Os criadores afirmam que esses produtos são fabricados na China por uma fração do preço cobrado no varejo — e usam a polêmica como resposta às tarifas de até 245% impostas por Donald Trump .
Os Vídeos e as alegações
Nos últimos dias, perfis como @wangsen9999 e @sen.bags ganharam destaque ao exibir fábricas chinesas repletas de bolsas semelhantes às de grifes europeias. Em um dos vídeos, um fornecedor alega que uma Birkin, vendida por até US$ 38 mil nos EUA, custaria apenas US$ 1.400 para ser produzida na China — sem o logo da marca . Outros vídeos mostram leggings da Lululemon sendo fabricadas por US$ 6 e revendidas por US$ 100, questionando a margem de lucro das empresas .
A estratégia parece clara: aproveitar a tensão comercial para promover vendas diretas ao consumidor, contornando as tarifas. Plataformas como DHgate e Taobao, que vendem réplicas de luxo, dispararam no ranking de downloads nos EUA .
A resposta das marcas
Hermès, Louis Vuitton e outras grifes negam veementemente a terceirização para a China. A Hermès, por exemplo, afirma que suas bolsas Birkin são feitas exclusivamente na França por artesãos treinados por até cinco anos, usando couro de curtumes próprios . Já a Lululemon desmentiu parcerias com as fábricas exibidas no TikTok, alertando sobre produtos falsificados .
Especialistas apontam que mesmo marcas que terceirizam etapas na Ásia — como montagem ou acabamento — mantêm o controle sobre design e materiais. A legislação europeia permite o selo “Made in France” se a etapa final ocorrer no país, mesmo com componentes fabricados em outros locais .
A questão da veracidade
A suspeita sobre a autenticidade dos vídeos é grande. Fabricantes legítimos costumam assinar acordos de confidencialidade, o que tornaria ilegal a divulgação de processos internos . Para Luca Solca, analista da Bernstein, os vídeos podem ser uma mistura de réplicas de alta qualidade e estratégia de marketing para promover fábricas chinesas .
Há ainda especulações sobre um possível envolvimento do governo chinês para minar a imagem das marcas ocidentais, mas especialistas consideram improvável uma coordenação direta .
O contexto da guerra comercial
Os vídeos surgiram após Trump elevar as tarifas sobre produtos chineses para 245%, em abril de 2025, como parte de sua política de “reindustrialização” dos EUA. A China retaliou com taxas de 125% sobre importações americanas .
Para Stefânia Ladeira, especialista em comércio exterior, a exposição das fábricas é uma forma de a China reequilibrar a narrativa, mostrando que o Ocidente depende de sua capacidade produtiva .
Impacto no consumidor e no mercado de Luxo
A viralização dos vídeos reacendeu debates sobre o valor real do luxo. Enquanto as grifes defendem que vendem “experiência, status e exclusividade”, os fabricantes chineses argumentam que 90% do preço está no logo .
Para os consumidores, a dúvida persiste: até que ponto o “Made in France” reflete a origem integral do produto? E como diferenciar uma réplica de um item autêntico? A falta de transparência nas cadeias produtivas dificulta a resposta .
Conclusão
A guerra comercial no TikTok expôs uma contradição do capitalismo global: enquanto o Ocidente valoriza marcas como símbolos