Inflação e queda no poder de compra: 55% dos brasileiros avaliam que economia piorou no governo Lula, Aponta Datafolha


Pesquisa revela percepção negativa recorde sobre a economia; preços dos alimentos e desvalorização do real são apontados como principais fatores.


Pela primeira vez no atual governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mais da metade dos brasileiros (55%) avalia que a situação econômica do país piorou nos últimos meses, segundo pesquisa Datafolha divulgada neste mês. O levantamento, realizado entre 1º e 3 de abril com 3.054 entrevistados em 172 municípios, mostra um salto de 10 pontos percentuais na percepção negativa em relação a dezembro de 2024, quando 45% já enxergavam deterioração .

Descrédito na Economia e Impacto no Cotidiano

A insatisfação vai além da macroeconomia: 34% dos entrevistados relatam piora em sua situação financeira pessoal, enquanto apenas 27% sentiram melhora. O poder de compra, tema central do descontentamento, é visto como em declínio por 37% da população, com apenas 30% esperando recuperação — reflexo da alta de preços de alimentos básicos, como carne (21% mais cara em 2024) e café (alta de 50% em 12 meses) .

A inflação, que superou o teto da meta em 2024 (4,83% contra 4,5%), é apontada por 62% dos brasileiros como tendência de alta, alimentando um ciclo de pessimismo. Para especialistas, a desvalorização do real frente ao dólar (que chegou a R$ 6,17 em 2024) agravou custos de importação e reduziu a oferta interna, pressionando ainda mais os preços .


Crise de Confiança e Queda na Popularidade

A deterioração econômica reflete diretamente na avaliação do governo. Segundo a pesquisa Quaest/Genial, a desaprovação de Lula atingiu 56% em março, ante 49% em janeiro, com queda acentuada até em redutos petistas, como o Nordeste, onde a vantagem de aprovação caiu de 35 para 6 pontos . Mulheres e eleitores de baixa renda, tradicional base de apoio, também ampliaram a crítica: 53% das mulheres desaprovam a gestão, e apenas 52% dos que ganham até dois salários mínimos aprovam o presidente .

A frustração está ligada à percepção de que promessas não foram cumpridas. Medidas como a isenção do Imposto de Renda para rendas de até R$ 5 mil e a redução de tarifas de importação de alimentos tiveram impacto limitado, com 56% da população desconhecendo a última iniciativa .


Expectativas para os Próximos Meses

O cenário futuro não é animador: 36% acreditam que a economia vai piorar, ante 29% que esperam melhoras. Apesar disso, 48% ainda apostam em recuperação pessoal — contradição que especialistas atribuem à “esperança condicional”, comum em períodos de instabilidade .

Para o cientista político Carlos Melo, do Insper, a inflação dos alimentos é o “calcanhar de Aquiles” do governo, já que afeta diretamente o dia a dia da população, independentemente de fatores externos como crises globais . Já a consultoria Eurasia Group alerta que, se a alta persistir, a reeleição de Lula em 2026 ficará mais difícil .


Respostas do Governo e Críticas

O Planalto tenta reagir com medidas de comunicação e econômicas. A nomeação do marqueteiro Sidônio Palmeira para a Secretaria de Comunicação buscou melhorar a narrativa, destacando avanços como o aumento real do salário mínimo e a geração de empregos. No entanto, analistas avaliam que a estratégia ainda não reverteu a percepção negativa .

Enquanto isso, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, enfrenta pressão para equilibrar ajustes fiscais e políticas populistas. A proposta de taxar grandes dividendos, apoiada por 60% da população, pode ser uma cartada, mas riscos de medidas eleitoreiras preocupam o mercado .



A combinação entre inflação persistente, desvalorização cambial e frustração com políticas públicas coloca o governo Lula em um cenário delicado a um ano e meio das eleições. Se a economia é o termômetro da popularidade, o desafio agora é converter números macroeconômicos — como o PIB, que cresceu 2,9% em 2024 — em sensação de melhora no bolso do eleitor.

Fontes: Datafolha, Quaest, Genial Investimentos, Eurasia Group .


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