A promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ampliar a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais terá de esperar mais dois anos para se concretizar. A informação foi confirmada nesta semana pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao apresentar o aguardado pacote de cortes de gastos do governo. Segundo Haddad, a medida está programada para entrar em vigor apenas em 2026 e não comprometerá os ajustes fiscais anunciados para equilibrar as contas públicas.
Embora a proposta atenda a uma demanda histórica da classe média e seja um compromisso reiterado durante a campanha presidencial, o mercado financeiro reagiu com ceticismo à notícia. Analistas apontam que a dilação do prazo pode ser vista como uma tentativa de adiar o impacto fiscal da medida, levantando dúvidas sobre a capacidade do governo de conciliar responsabilidade fiscal com políticas redistributivas.
Mudança na tabela do IR e cortes de gastos
O anúncio de Haddad veio no contexto de um pacote abrangente de cortes de despesas, com o objetivo de assegurar que o governo atinja as metas fiscais estabelecidas para os próximos anos. Segundo o ministro, o adiamento da isenção não interfere nas projeções financeiras, mas a decisão desagradou a setores do mercado, que já questionam a credibilidade do compromisso governamental com a meta de zerar o déficit fiscal em 2024.
Atualmente, a faixa de isenção do Imposto de Renda abrange contribuintes que ganham até R$ 2.640, valor equivalente a dois salários mínimos. A ampliação para R$ 5 mil representaria uma atualização significativa na tabela, que não é corrigida de maneira expressiva há anos, prejudicando trabalhadores que passam a pagar o imposto mesmo com rendimentos modestos.
Apesar do alívio para milhões de brasileiros, a medida terá um impacto fiscal considerável. Estima-se que a ampliação da faixa de isenção custará aos cofres públicos cerca de R$ 40 bilhões por ano, uma despesa que exige compensações para evitar o aumento do déficit.
Reações divididas e expectativas para 2026
Para especialistas, o governo terá de demonstrar maior clareza sobre como financiar a medida sem comprometer as contas públicas. Alguns veem o adiamento como uma estratégia política para vincular a implementação da isenção ao final do mandato de Lula, criando um impacto positivo em um possível cenário de reeleição.
Por outro lado, entidades sindicais e movimentos sociais elogiaram a iniciativa, argumentando que a correção da tabela é essencial para reduzir a desigualdade tributária no Brasil, onde os mais pobres proporcionalmente pagam mais impostos que os mais ricos.
Enquanto isso, a resistência do mercado reflete um temor de que o governo não consiga manter o equilíbrio fiscal prometido. A decisão de postergar a isenção também levanta questionamentos sobre o cumprimento de outras promessas de campanha e aumenta a pressão sobre Haddad para garantir a execução do plano econômico sem comprometer a credibilidade do país junto a investidores.
Com a medida prevista apenas para 2026, o governo ainda terá que enfrentar debates intensos no Congresso e junto à sociedade civil. Até lá, a tensão entre expectativas populares e realidades fiscais seguirá como um dos principais desafios da gestão Lula.