Presidente brasileiro expressou apoio em telefonema à primeira-ministra dinamarquesa e criticou retórica de anexação dos EUA; entenda o conflito geopolítico no Ártico
Em um gesto que reforça o posicionamento multilateral do Brasil no cenário internacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) manifestou apoio à Dinamarca contra as recentes ameaças do governo norte-americano de anexar a Groenlândia, território autônomo dinamarquês. A declaração ocorreu durante um telefonema de 40 minutos com a primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, na última sexta-feira (11). O diálogo também abordou a aceleração do acordo Mercosul-União Europeia e a participação da líder europeia na COP30, marcada para novembro em Belém .
O Conflito pela Groenlândia: Por Que os EUA Querem o Território?
A Groenlândia, ilha ártica com apenas 56 mil habitantes, tornou-se alvo de Donald Trump, que reiterou o interesse dos EUA em anexá-la, alegando “segurança internacional”. O território, rico em minerais estratégicos (como terras raras usadas em tecnologia) e com rotas comerciais potencializadas pelo degelo do Ártico, abriga a Base Aérea Thule, crucial para a defesa antimísseis dos EUA desde 1951 .
Trump já afirmou que a região é “essencial para proteger o mundo livre” e sugeriu até mesmo usar “força econômica” para pressionar a Dinamarca, embora descarte ações militares por enquanto. Seu filho, Donald Trump Jr., visitou a ilha em março, gerando protestos locais contra a “interferência desrespeitosa” dos EUA .
Posição da Groenlândia e da Dinamarca
A Dinamarca rejeitou veementemente as propostas de Trump, com a primeira-ministra Frederiksen afirmando: “A Groenlândia pertence aos groenlandeses” . Líderes locais, como o primeiro-ministro groenlandês Múte Egede, reforçam o desejo de independência da Dinamarca — não dos EUA. Pesquisas indicam que 85% da população rejeita a anexação, temendo perda de autonomia e influência externa .
A tensão escalou após o vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, criticar publicamente a “inação” dinamarquesa na segurança da ilha, levando o ministro das Relações Exteriores da Dinamarca, Lars Løkke Rasmussen, a rebater: “Não é assim que se fala com aliados próximos” .
Lula e a Defesa do Multilateralismo
No telefonema, Lula não apenas expressou solidariedade à Dinamarca, mas também destacou a importância do “multilateralismo e do livre comércio”, em referência indireta às tarifas unilaterais impostas por Trump recentemente . O presidente brasileiro ainda convidou Frederiksen para a COP30 e para a Cúpula Brasil-União Europeia, eventos que ocorrerão sob a presidência rotativa do Brasil no Mercosul e da Dinamarca no Conselho da UE no segundo semestre .
Além disso, Lula mencionou a disposição do Brasil e da China em mediar o conflito na Ucrânia por meio do Grupo de Amigos da Paz, reforçando seu papel como intermediário em crises globais .
Implicações Globais e o Futuro do Ártico
A disputa pela Groenlândia reflete a crescente competição geopolítica no Ártico, onde Rússia, China e EUA buscam influência. A região, além de estratégica militarmente, é vital para rotas comerciais emergentes e recursos naturais — fatores agravados pelas mudanças climáticas .
Enquanto a Dinamarca investe US$ 2 bilhões para fortalecer sua presença no Ártico, a Groenlândia caminha para ampliar sua autonomia, embora dependa economicamente de Copenhague. “Nosso futuro é problema nosso”, declarou Egede, em resposta às pressões externas .
Conclusão:
O apoio de Lula à Dinamarca não apenas reforça laços bilaterais, mas posiciona o Brasil como defensor da soberania territorial em um momento de crescentes tensões globais. Enquanto Trump insiste em expandir o poderio norte-americano, a resistência groenlandesa e a diplomacia multilateral emergem como contrapontos cruciais. A COP30, em Belém, promete ser o próximo palco dessa articulação, unindo clima, comércio e geopolítica.