Brasília – Em discurso inflamado na convenção do PSB neste domingo (1º), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva condenou veementemente a intromissão do governo de Donald Trump na Justiça brasileira. A reação foi provocada por um ofício do Departamento de Justiça dos EUA endereçado ao ministro do STF Alexandre de Moraes, questionando a validade de suas decisões em território americano. A carta, revelada pelo The New York Times, alerta que ordens judiciais brasileiras “não são executáveis nos EUA” sem reconhecimento formal por tribunais locais .
O Cerne do Conflito
A crise teve início após Moraes determinar o bloqueio de plataformas digitais americanas no Brasil, como Rumble e X (ex-Twitter), por descumprirem decisões judiciais. Entre as exigências estava a remoção de perfis acusados de disseminar desinformação, como o do bolsonarista Allan dos Santos, refugiado nos EUA. O Departamento de Justiça americano, liderado por Ada Bosque, argumentou que as ordens de Moraes violariam a “jurisdição dos EUA” ao exigir ações em solo americano .
Lula reagiu com indignação:
“Os EUA querem processar Alexandre de Moraes porque ele quer prender um brasileiro que está lá fazendo coisa contra o Brasil o dia inteiro. Por que criticam nossa Justiça? Nunca critiquei a deles. Fazem tanta barbaridade, tantas guerras, matam tanta gente” .
⚖️ Sanções Iminentes e a Lei Magnitsky
O secretário de Estado Marco Rubio ampliou a tensão ao anunciar restrições de visto contra autoridades estrangeiras “cúmplices de censura a americanos”. Em audiência no Congresso dos EUA, Rubio admitiu que há “grande possibilidade” de Moraes ser sancionado pela Lei Magnitsky, que permite bloquear bens e proibir entrada no país sob acusações de violações de direitos humanos . Horas depois, o conselheiro de Trump, Jason Miller, tuitou direcionando-se ao ministro: “Olá, @Alexandre!” .
Tabela: Cronologia da Crise Diplomática
Data | Evento |
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07/05/2025 | EUA enviam carta ao MJ questionando decisões de Moraes . |
21/05/2025 | Rubio sinaliza sanções a Moraes em audiência no Congresso . |
28/05/2025 | EUA anunciam política de restrição de vistos a “censores” . |
01/06/2025 | Lula defende Moraes e ataca Trump em convenção do PSB . |
Contexto Geopolítico e Articulação Bolsonarista
Lula vinculou o ataque a Moraes a uma estratégia wider de Trump para enfraquecer o multilateralismo:
“Trump quer acabar com o multilateralismo e criar o unilateralismo. […] Ninguém se mete nas coisas do Brasil, e nós não nos metemos nas coisas dos outros” .
Nos bastidores, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro, radicado nos EUA desde março, lidera uma campanha junto a republicanos para pressionar por sanções. Sua justificativa: Moraes seria um “censor” que persegue opositores . Em retaliação, o ministro abriu inquérito contra Eduardo, que deverá depor à polícia brasileira em 10 dias .
Reações e Alertas para 2026
O governo brasileiro adota cautela institucional, mas promete resposta formal se sanções forem aplicadas. Paralelamente, Lula alertou para o risco de uma “superbancada bolsonarista” no Senado em 2026, capaz de articular impeachments contra ministros do STF :
“Precisamos preservar as instituições que garantem a democracia. Se destruirmos o que não gostamos, não sobrará nada”.
Por Que Isso Importa?
A crise expõe um conflito de soberania digital: até onde decisões nacionais podem afetar empresas estrangeiras? Para o Brasil, a postura dos EUa representa uma ameaça à capacidade do Estado de combater crimes digitais. Para Washington, é uma defesa da Primeira Emenda (liberdade de expressão) .
Especialistas como Maristela Basso (USP) veem a carta como “prenúncio de artilharia maior” , enquanto o governo brasileiro a classifica como “meramente informativa” e atípica .
Conclusão
O embate Lula-Trump sobre Moraes ultrapassa fronteiras e simboliza uma guerra cultural global: de um lado, a defesa da democracia contra desinformação; do outro, o discurso de liberdade absoluta. Com Eduardo Bolsonaro como ator-chave nos EUA e Rubio sinalizando medidas concretas, a crise tende a se aprofundar – e definir os limites da soberania na era digital.
🔍 Leia mais: Carta íntegra do Departamento de Justiça dos EUA .