Por Requião Filho
A máxima de que “o homem é o lobo do homem” nunca pareceu tão adequada para o momento político brasileiro quanto agora, especialmente no governo Lula III. A mais recente pesquisa Quaest mostra Lula tecnicamente empatado com todos os principais nomes da direita – Bolsonaro, Michelle, Tarcísio, Ratinho Jr. – em cenários de segundo turno. A rejeição a Bolsonaro é alta, mas a de Lula também, evidenciando um cansaço generalizado com as opções disponíveis.
Apesar de discursos sobre uma suposta imposição de “terceira via” pela mídia, o fato é que o eleitor brasileiro está exausto de governos insatisfatórios, seja de direita ou de esquerda. A polarização, que já foi combustível para mobilizações, agora apenas reforça um ciclo de decepção. Nem mesmo dentro do PT a candidatura de Lula para 2026 é consenso. O campo progressista começa a questionar a estratégia do “tudo ou nada”, que sufoca novas lideranças.
Enquanto isso, a direita, mesmo ainda presa ao carisma tóxico de Bolsonaro, já apresenta outros nomes. O caso de Ratinho Jr. é emblemático: mesmo desconhecido por metade dos entrevistados, empata tecnicamente com Lula em um eventual segundo turno. Isso revela não uma aprovação à sua gestão, mas sim a indisposição do eleitorado com os nomes tradicionais. O desejo é claro: trocar quem está no poder, mesmo que a alternativa seja pouco conhecida.
Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, replica políticas e quadros do governo Ratinho Jr., mas enquanto Tarcísio é criticado, Ratinho Jr. passa despercebido. Assim, Ratinho Jr. se torna, por omissão, o “preferido” da esquerda entre os nomes da direita, um paradoxo que expõe a superficialidade do debate público e a falta de renovação real.
O maior problema está na própria esquerda. Lula, ao centralizar a narrativa de que só ele pode salvar o país, bloqueia o surgimento de novas lideranças, tanto no PT quanto em outros partidos progressistas. Isso faz com que Lula apareça sozinho no campo progressista, enquanto a direita multiplica opções. Esse déficit de renovação é preocupante: sem novos quadros, o campo progressista se desgasta junto com seu principal líder.
A questão é alimentado por escândalos que atingiram tanto Lula quanto Bolsonaro: mensalão, orçamento secreto, emendas PICS, fraudes no INSS. O discurso do medo já não mobiliza como antes. O eleitor quer mais do que evitar o pior; quer uma alternativa que ofereça eficiência, justiça e atendimento real às suas necessidades.
No fundo, a demanda é simples: o brasileiro quer conduzir sua própria vida. Seja pelo caminho da casa, comida e educação defendido pela esquerda, seja pela liberdade econômica pregada pela direita, o objetivo é o mesmo – autonomia e evolução. Enquanto Lula insistir em centralizar o protagonismo e Bolsonaro continuar sendo o espantalho do medo, o Brasil seguirá à procura de uma terceira via que, mais do que um nome, precisa ser uma ideia nova de país.