Professores da rede municipal de São Paulo realizaram paralisação histórica contra a privatização e a desvalorização da categoria, mas desafios persistem.
Após três semanas de intensa mobilização e os maiores atos de rua desde o início da pandemia, os trabalhadores da educação do município de São Paulo suspenderam a greve deflagrada em abril. A paralisação, motivada por uma série de ataques à categoria desde 2018, teve como principal foco o combate à privatização, a defesa dos direitos dos profissionais da educação, especialmente aqueles que necessitam de afastamento por motivos de saúde, e a luta por um plano de carreira justo, que não seja corroído pela política de reajuste salarial atrelado ao piso nacional, sem incorporação no padrão.
De acordo com relatos do Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo (SINPEEM), a categoria demonstrou sua força com duas grandes manifestações nos dias 22 e 29 de abril, paralisando importantes vias da capital paulista para alertar a população sobre os retrocessos promovidos pela gestão do prefeito Ricardo Nunes. Em 22 de abril, inclusive, após a manifestação, os educadores caminharam até a Avenida Paulista para denunciar as medidas que consideram prejudiciais à educação e aos seus profissionais. Entre as principais reivindicações estava a revogação da Lei nº 18.221/2024, que suspende a Jornada Especial Integral de Formação (Jeif) para docentes readaptados e com licença superior a 30 dias, resultando em uma significativa redução salarial de 33%. O fim das terceirizações e privatizações na educação, a revogação do aumento da alíquota previdenciária para 14% e a busca por um reajuste salarial justo também pautaram os protestos.
Apesar da forte pressão da categoria, a greve foi encerrada com um sentimento agridoce. Se por um lado houve avanços pontuais, considerados “efêmeros” pela própria categoria, como a garantia de não perder a lotação nas Unidades Educacionais (UEs) para os gestores das escolas com as 50 piores notas na prova São Paulo e a estabilidade na jornada para professores readaptados e licenciados até uma decisão judicial sobre a Lei nº 18.221, a principal demanda, que era a revogação da lei, não foi atendida. A decisão sobre o direito ao afastamento por motivo de saúde dos profissionais da educação segue agora para análise da Justiça. Além disso, o reajuste salarial conquistado, de 2,6%, ficou aquém das expectativas da categoria, que reivindicava uma valorização mais significativa. A Câmara dos Vereadores de São Paulo aprovou em primeira votação este reajuste em 23 de abril, com previsão de um aumento escalonado, sendo 2,6% a partir de maio de 2025 e 2,55% em 2026.
Ainda que tenham ocorrido algumas concessões no final da greve, a percepção entre os trabalhadores da educação é de que as promessas de “grupos de estudo” e “análise de propostas” já são conhecidas e raramente se concretizam. A avaliação é de que, para barrar os ataques e obter conquistas mais consistentes, a categoria precisa evoluir em seus métodos de luta, buscando maior unidade, força e radicalidade.
A experiência de 2018, quando a categoria derrotou o Sampaprev de João Dória, é lembrada como um exemplo de força e mobilização. Naquela ocasião, uma adesão massiva à greve, superior a 90%, e a disposição de ocupar as ruas, inclusive com a intenção de invadir a Câmara Municipal diante de agressões a professores, foram cruciais para a vitória. A lição para o futuro, segundo a avaliação da própria categoria, reside na necessidade de decisões coletivas e no acatamento das deliberações das assembleias, com uma atuação conjunta e disciplinada de todos os trabalhadores da educação.
A luta pela valorização da educação pública em São Paulo continua, e o recente balanço da greve “Luta Educadora” serve como um importante alerta para a necessidade de novas estratégias e um engajamento ainda maior da categoria para enfrentar os desafios que se apresentam.
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