No último dia 9, um trágico acidente aéreo em Ubatuba, litoral de São Paulo, revelou atos de heroísmo e solidariedade. A empresária Mireylle Fries, de 41 anos, foi fundamental para salvar seus filhos após a queda da aeronave. Infelizmente, o piloto Paulo Seguetto não sobreviveu.
Testemunhas descreveram Mireylle como uma verdadeira “leoa” ao priorizar o resgate dos filhos, Ayla, de 4 anos, e Lucca, de 6. Mesmo ferida, ela insistiu para que as crianças fossem retiradas primeiro dos destroços. “Ela foi que nem uma leoa para salvar os filhos, com a força, sabe? Acho que ela estava até fora de si no meio daquela fumaça, ferida que estava, ainda. Ela conseguiu tirar uma criança, tirou a outra. E quis tirar o esposo também”, relatou Gilmar Destefano, agricultor e morador de Ubatuba.
O acidente mobilizou rapidamente moradores e turistas que estavam próximos ao local. Muitos arriscaram suas vidas para quebrar as janelas da aeronave e utilizaram água do mar na tentativa de conter as chamas. O serralheiro Lino Ferreira Batista Junior, de 38 anos, foi um dos primeiros a chegar ao local e descreveu a dificuldade em quebrar os vidros do avião: “A gente começou a caçar alguma coisa para quebrar a janela. Só dava para ver a mão dos passageiros batendo no vidro, tinha muita fumaça. A primeira coisa que achamos foram pedaços de concreto. Mas batia e voltava, batia e voltava. Nunca andei de avião, não imaginava que vidro de avião fosse tão duro. Bateu desespero porque não estava dando certo. Depois a gente achou um pedaço de ferro, acho que era de um poste, e conseguimos quebrar para retirar as crianças.”
Pedro Romano, de 25 anos, que trabalhava em uma cozinha próxima ao aeroporto, também participou do resgate. Ele afirmou que a prioridade foi salvar as crianças: “O piloto foi o primeiro que a gente conseguiu ter contato. Ele estava de ponta-cabeça e a cabine estava dentro da água. Ele segurou o braço da gente, o meu e o de outro rapaz. Tentamos soltar o cinto, mas não dava. Quando ele soltou nosso braço, já estava com mais da metade do corpo dentro da água. Corri para o fundo do avião quando ouvi os gritos porque tinham conseguido quebrar uma janela. A menina foi retirada primeiro e depois eu consegui pegar o menino e o levei até a ambulância. Ele estava acordado, mas inconsciente. Foi muito impactante.”
Após o resgate, Mireylle foi submetida a uma cirurgia de emergência no Hospital Regional de Caraguatatuba e posteriormente transferida para um hospital particular em São Paulo, onde permanece internada em estado grave. Seu marido, Bruno Almeida Souza, de 48 anos, e os filhos estão estáveis e continuam internados na capital paulista.
As autoridades já iniciaram as investigações para determinar as causas do acidente. O Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) está à frente das apurações.
A tragédia comoveu a comunidade local e destacou a coragem de Mireylle e dos voluntários que participaram do resgate, evidenciando atos de bravura e solidariedade em momentos de extrema adversidade.