“O dia que a escola calou”: como Caxias do Sul e São Paulo tentam rescrever a rotina após o terror

A lembrança ainda pulsa forte nos corredores e salas de aula. Professores, alunos e familiares das comunidades escolares de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, e São Paulo, na capital paulista, vivenciam um delicado processo de retomada da rotina após serem alvo de ataques violentos que marcaram o país. O sentimento de insegurança e o trauma são cicatrizes invisíveis que demandam tempo e apoio para serem superadas, como relata a BBC News Brasil.
Em Caxias do Sul, a recente agressão em uma escola municipal expôs a fragilidade e o medo que se instalaram na comunidade. “Sempre vai ter um sentimento diferente, em especial para quem estava aqui no dia do ataque”, desabafa um professor da instituição, em anonimato, à BBC. A frase ecoa o temor de educadores em todo o Brasil, como apontam pesquisas recentes. Um estudo da Unicamp revelou que muitos professores da rede municipal têm evitado virar as costas para os alunos, um reflexo do receio de perder o controle visual da turma.
Aos poucos, as escolas buscam reconstruir a confiança abalada. Em Caxias do Sul, após o ataque, a escola permaneceu fechada por duas semanas, seguindo a recomendação de especialistas. O período foi utilizado para revitalizar o espaço, com reformas e pintura, uma estratégia apontada como importante para ressignificar o ambiente escolar. Rodas de conversa, oficinas lúdicas e sessões de acolhimento foram algumas das ações implementadas para amparar a comunidade.
Em São Paulo, a realidade não é diferente. A capital também registrou episódios de violência em escolas, deixando marcas profundas. A volta às aulas tem sido acompanhada de um esforço conjunto de psicólogos, pedagogos e assistentes sociais para lidar com o trauma. “O trauma de um ataque não se resolve em uma semana. Há estudos que mostram que os efeitos podem durar mais de três anos”, explica um especialista em saúde mental consultado pela BBC. “A escola sofre um grande abalo, mas não é só ela: toda a comunidade escolar, os vizinhos, os parentes das crianças e os colegas dos professores também são afetados.”
A necessidade de fortalecer os vínculos e a socialização tem sido uma prioridade nas atividades escolares. Professores de educação física, por exemplo, têm intensificado jogos e atividades em grupo. “A escola precisa ser um espaço de socialização. Isolamento é sempre um sinal de alerta”, afirma uma professora ouvida pela BBC.
O relatório “Ataques às escolas no Brasil: análise do fenômeno e recomendações para a ação governamental”, divulgado pelo Governo Federal, aponta que os ataques são frequentemente praticados por alunos ou ex-alunos, motivados por ressentimentos, fracassos e violências vivenciadas. O documento ressalta a importância de investir em equipamentos de segurança, proteção e, principalmente, no apoio psicossocial nas escolas, além da formação das comunidades escolares para o enfrentamento da violência.
O trabalho de monitoramento de ameaças e ações de inteligência, inclusive com parcerias internacionais, tem sido intensificado para prevenir novos ataques. No entanto, a reconstrução do tecido social e a recuperação do bem-estar emocional nas escolas de Caxias do Sul, São Paulo e em todo o Brasil demandam um esforço contínuo e a união de toda a sociedade. O medo pode persistir, mas a esperança de um ambiente escolar seguro e acolhedor é a força motriz para que a rotina, gradativamente, volte a florescer.

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