Uma sequência alarmante de reveses políticos tem exposto a crescente fragilidade do governo federal, intensificando a dependência de forças conservadoras para manter a governabilidade.
Em meio a um cenário político turbulento, o Palácio do Planalto tem colecionado derrotas significativas nos últimos meses. A sucessão de erros estratégicos e a aparente dificuldade em construir uma base de apoio sólida no Congresso Nacional têm enfraquecido a gestão e aberto um vácuo de poder que a direita parece disposta a ocupar.
Um dos exemplos recentes da fragilidade governamental foi a derrubada da norma que aumentava a fiscalização do Pix, uma medida anunciada pelo Ministério da Fazenda. A decisão, que representou uma derrota para o ministro Fernando Haddad, demonstra a dificuldade do governo em implementar suas próprias políticas diante da pressão de diferentes setores. Essa situação já se repetiu ao menos nove vezes somente em 2025, segundo levantamento do Poder360, com o governo frequentemente tendo que recuar de decisões anunciadas.
A dificuldade em aprovar projetos importantes e a necessidade constante de ceder a demandas da oposição revelam uma dependência crescente da direita para garantir a aprovação de pautas mínimas. Essa dinâmica, apontada em análises do Intercept Brasil, coloca o governo em uma posição de refém, com pouco poder de barganha e suscetível a pressões de setores conservadores.
Para cientistas políticos como Joyce Luz, a fragilidade também reside na centralização de poder na figura do presidente, que se vê obrigado a atuar como principal articulador em todas as negociações. Essa estratégia, embora possa ter sido eficaz em alguns momentos, expõe a vulnerabilidade do governo quando o presidente não consegue costurar os acordos necessários. A própria articulação política do governo tem sido alvo de críticas, inclusive do próprio presidente, que reconheceu falhas na comunicação.
Apesar de membros do governo negarem articulações para uma reforma ministerial no início de 2025, interlocutores do presidente admitem que mudanças devem ocorrer, como aponta o Brasil de Fato. No entanto, a cientista social se mostra pessimista quanto à capacidade de uma reforma ministerial resolver os problemas de articulação, questionando quem, de fato, conseguiria agradar um Congresso com um perfil majoritariamente conservador.
O Correio Braziliense já havia sinalizado, em maio de 2024, que as derrotas do governo eram um recado do Congresso, especialmente dos presidentes da Câmara e do Senado. A dificuldade em avançar com a agenda governamental em 2025 apenas confirma essa leitura.
Diante desse cenário, a questão que se impõe é como o governo pretende reverter essa espiral de enfraquecimento. A perda de capital político e a crescente dependência da direita não apenas dificultam a implementação de políticas públicas, mas também abrem espaço para o avanço de uma agenda conservadora que pode ir de encontro aos interesses da base eleitoral do governo. O sucesso em 2025, como apontava uma análise do Teoria e Debate em setembro de 2024, dependerá crucialmente da capacidade do governo em reverter esse quadro de fragilidade e reconstruir pontes com o Congresso, tarefa que se mostra cada vez mais desafiadora.
Planalto em prantos: série de derrotas rscancara fraqueza do governo e abre caminho para a direita
