Tribunal determina criação de grupo de trabalho em 60 dias para avaliar falhas relatadas por docentes; especialistas alertam para riscos da “plataformização” sem diálogo.
Em meio a críticas crescentes de educadores sobre a dependência excessiva de ferramentas digitais nas salas de aula, o Tribunal de Contas do Estado do Paraná (TCE-PR) determinou à Secretaria de Estado da Educação (SEED-PR) a criação de um grupo de trabalho para analisar as reclamações do corpo docente sobre a “plataformização da educação”. A medida, aprovada em dezembro de 2023 e formalizada no Acórdão nº 4568/24, publicado em 22 de janeiro, surge como resposta a denúncias de professores que relatam desde falhas técnicas até a sobrecarga de trabalho gerada pelos sistemas digitais.
A decisão do TCE-PR inclui nove recomendações para aprimorar o uso de tecnologias nas escolas estaduais, mas destaca a necessidade de a SEED-PR ouvir ativamente os profissionais que lidam diariamente com as plataformas. O órgão estabeleceu um prazo de 60 dias para a formação do grupo, que deverá propor correções às deficiências apontadas, como instabilidade de acesso, falta de capacitação e a burocratização do ensino.
Contexto das Críticas:
Relatos coletados em redes de docentes e em manifestações sindicais (como o Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná, APP-Sindicato) apontam que a adoção acelerada de plataformas como Google Classroom, Microsoft Teams e sistemas próprios do governo estadual, intensificada durante a pandemia, não foi acompanhada de suporte adequado. Professores reclamam de:
- Falta de treinamento para uso pedagógico das ferramentas;
- Aumento da jornada laboral para preenchimento de dados e atividades online;
- Problemas de conectividade em escolas de regiões rurais e periféricas;
- Falta de personalização dos recursos, que nem sempre se adaptam a realidades locais.
Dados Nacionais Contextualizam o Debate:
Segundo o Censo Escolar 2023, apenas 46% das escolas públicas brasileiras têm infraestrutura adequada para suportar plataformas digitais. No Paraná, embora o estado esteja acima da média nacional em conectividade (68%), a desigualdade regional persiste: enquanto na capital Curitiba 92% das escolas têm banda larga, no interior esse número cai para 58%.
Especialistas Opinam:
Para Maria Lúcia Pedroso, pesquisadora em políticas educacionais da UFPR, a medida do TCE-PR é um “alerta necessário”:
“A tecnologia é uma aliada, mas não pode substituir o planejamento pedagógico ou ignorar as condições de trabalho dos professores. Plataformas são ferramentas, não fins em si mesmas. É urgente equilibrar inovação com diálogo.”
Próximos Passos:
A SEED-PR ainda não se pronunciou publicamente sobre como organizará o grupo de trabalho, mas, segundo o TCE-PR, a secretaria terá de apresentar um relatório detalhado após a análise das demandas. Enquanto isso, docentes esperam que a iniciativa abra espaço para revisão de políticas como o Programa Edutec, principal modelo de plataformização do estado, alvo de resistência desde 2022.
O que Está em Jogo:
Além do debate sobre eficiência tecnológica, a decisão do tribunal reacende discussões sobre a valorização docente e a necessidade de políticas educacionais participativas. Como destacou um professor anônimo em rede social: “Queremos ensinar, não virar operadores de sistema.”
Fontes Consultadas: Acórdão TCE-PR 4568/24, Censo Escolar 2023 (INEP), APP-Sindicato, registros de audiências públicas sobre o Edutec.