Segredo no solo: como microrganismos podem revolucionar a energia limpa e combater o aquecimento global


Um avanço científico está colocando os holofotes sobre o poder invisível de microrganismos presentes no solo. Pesquisadores de instituições brasileiras e internacionais descobriram que certas bactérias e fungos são capazes de dissolver carbonato de cálcio — mineral abundante em rochas e resíduos industriais —, abrindo caminho para tecnologias inovadoras de captura de carbono e armazenamento de energia renovável. O estudo, publicado este mês na revista Nature Sustainability, promete impactar setores como o de energia solar, eólica e até a indústria de cimento, uma das maiores emissoras de CO₂ do mundo.

Como funciona a “magia” microbiana?
O carbonato de cálcio (CaCO₃) é um composto estável, encontrado em conchas, calcário e até em escória industrial. Ao dissolvê-lo, os microrganismos liberam íons de cálcio e bicarbonato. Esse processo, segundo os cientistas, pode ser aproveitado para dois fins principais:

  1. Capturar CO₂ da atmosfera: O bicarbonato formado pode reagir com o dióxido de carbono, armazenando-o de forma segura em aquíferos ou no oceano.
  2. Produzir “baterias naturais”: Os íons liberados têm potencial para serem usados em sistemas de armazenamento de energia, como baterias de fluxo, essenciais para viabilizar fontes intermitentes, como solar e eólica.

Dados complementares:
Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), tecnologias de captura de carbono precisam ser ampliadas em 20 vezes até 2030 para limitar o aquecimento global a 1,5°C. Já um estudo da Universidade de São Paulo (USP), não envolvido na pesquisa, aponta que o Brasil possui mais de 2 bilhões de toneladas de resíduos de carbonato de cálcio gerados pela indústria de papel e celulose — material que poderia ser transformado em solução energética.

Desafios e próximos passos:
Apesar do otimismo, os cientistas destacam que a técnica ainda está em fase laboratorial. “Precisamos entender como escalonar esse processo sem causar impactos ecológicos, como a acidificação de solos”, explica Dra. Ana Beatriz Costa, geobióloga da Unicamp e coautora do estudo. A equipe já iniciou parcerias com empresas de energia para testar protótipos em usinas solares no Nordeste brasileiro.

Por que isso importa?
Além de reduzir emissões, a tecnologia pode transformar resíduos industriais em recursos valiosos, alinhando-se aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Enquanto isso, a natureza segue ensinando: até os menores organismos podem guardar a chave para os maiores desafios da humanidade.

Fontes consultadas: Nature Sustainability, Agência Internacional de Energia (IEA), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).


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