A cidade de Ponta Grossa (PR) enfrenta uma crise hídrica que se arrasta desde janeiro, mas atingiu seu ápice nesta semana, culminando em protestos contra o governador Ratinho Jr (PSD) e a Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar). Na terça-feira (18), moradores foram às ruas para cobrar soluções após mais uma falha em obras da empresa, que deixou a cidade sem água desde domingo (16). A situação crítica expõe problemas estruturais e a insatisfação popular com as justificativas repetidas de “calor” e “alto consumo” para os cortes diários.
De acordo com relatos de moradores nas redes sociais, desde o início do ano, bairros como Uvaranas, Oficinas e Chapada sofrem com rodízios não oficializados, com água disponível apenas em horários noturnos ou madrugada. A insustentabilidade do cenário levou a Sanepar a anunciar, nesta quarta-feira (19), que o abastecimento total só será retomado na quinta-feira (20) – promessa vista com desconfiança pela população.
Falta de transparência e críticas ao governo
Os protestos destacaram a cobrança por transparência. A Sanepar atribuiu os cortes recentes a uma “intercorrência em obras de melhoria” no sistema, sem detalhar a natureza do problema. Já a Prefeitura local, governada por Elizabeth Schmidt (PSD), aliada de Ratinho Jr, reiterou o discurso da empresa, reforçando a narrativa de que as altas temperaturas do verão pressionaram a rede.
Dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), porém, revelam que o Paraná tem 35,7% de perda de água potável em sua distribuição – índice acima da média nacional (33,9%). Especialistas apontam que investimentos insuficientes em infraestrutura e a falta de planejamento para o crescimento urbano agravam o problema.
Repercussão política
A crise em Ponta Grossa ecoa em um momento delicado para Ratinho Jr, que busca reeleição em 2024. Oposicionistas têm usado o caso para criticar a gestão estadual do saneamento, enquanto entidades ambientais alertam para riscos à saúde pública com a escassez prolongada.
Enquanto isso, moradores improvisam: “Estamos há meses comprando galões ou dependendo de carros-pipa. Não é só calor, é descaso”, desabafou uma residente do Centro em entrevista a um veículo local. A Sanepar informou que “intensificou as equipes para acelerar o reparo”, mas a população aguarda, literalmente, a água cair.
Contextualização:
Ponta Grossa não é caso isolado. Em 2023, cidades como Londrina e Maringá também registraram protestos por falhas na Sanepar, sinalizando uma crise sistêmica no saneamento paranaense. O governo estadual prometeu R$ 1,2 bilhão em investimentos até 2025, mas, para os manifestantes, a urgência é agora.