Em uma revelação surpreendente que levanta questionamentos sobre as relações entre o poder público e o crime organizado, a Polícia Federal (PF) descobriu que a cúpula do Comando Vermelho, a maior facção criminosa do Rio de Janeiro, ordenou uma trégua de sete dias – sem roubos e confrontos – durante uma reunião do G20 na capital fluminense. A ordem foi interceptada em mensagens atribuídas ao traficante Arnaldo da Silva Dias, conhecido como Naldinho, tido pela PF como um “relações-públicas” da facção.
Naldinho, que cumpre pena na Penitenciária Gabriel Ferreira Castilho (Bangu 3), parte do complexo de Gericinó, teria comunicado a um comparsa que um “representante das autoridades no Rio” procurou um membro da facção para solicitar o período de calmaria. A investigação da Polícia Federal, no entanto, ainda não conseguiu identificar a identidade dessa misteriosa autoridade.
O Comando Vermelho, fundado em 1979 no presídio Cândido Mendes, na Ilha Grande, Angra dos Reis, é notório por sua atuação no crime organizado, principalmente no estado do Rio de Janeiro, mas com ramificações em outros estados brasileiros e até em países vizinhos. A facção, caracterizada por uma estrutura menos hierárquica com lideranças locais nos morros, rivaliza com outras organizações criminosas, como o PCC (Primeiro Comando da Capital).
A descoberta da PF ocorreu em meio aos preparativos e realização da reunião de cúpula do G20, que, conforme informações oficiais, aconteceu no Rio de Janeiro em novembro de 2024, e não em fevereiro como mencionado inicialmente. A sede do evento foi o Museu de Arte Moderna (MAM Rio), marcando a primeira vez que o Brasil sediou o encontro de líderes das maiores economias do mundo.
Ainda que a data exata da reunião do G20 citada nas mensagens de Naldinho demande esclarecimento, a revelação de uma possível negociação entre autoridades e uma facção criminosa para garantir a segurança de um evento internacional de grande porte é alarmante. A defesa de Naldinho, segundo relatos, questiona a autenticidade das mensagens e a identificação do usuário da linha telefônica interceptada.
Este episódio levanta sérias questões sobre a influência do crime organizado no Rio de Janeiro e a sua capacidade de ditar o ritmo da violência, mesmo durante eventos de importância global. A ausência de identificação da suposta autoridade envolvida no pedido de trégua apenas intensifica a necessidade de uma investigação rigorosa para esclarecer os fatos e as possíveis implicações dessa relação obscura. A população carioca e as autoridades aguardam respostas sobre este intrigante pacto de silêncio em meio ao cenário complexo da segurança pública do estado.
Trégua inusitada no Rio: Comando Vermelho decreta paz durante o G20 a pedido misterioso
