Vídeo choca ao mostrar professor agredindo criança autista no Rio

Caso ocorrido em 2024 expõe falhas no atendimento a alunos com necessidades especiais e reacende debate sobre violência em escolas; mãe relata trauma persistente.


Um vídeo que circula nas redes sociais desde o último domingo (6) mostra o momento em que um professor de capoeira agride um aluno autista de 11 anos durante uma aula no Centro Educacional Meirelles Macedo, em Guaratiba, Zona Oeste do Rio. O caso, ocorrido em setembro de 2024, veio à tona após a mãe do menino, Joyce Siqueira, denunciar a agressão e lutar por seis meses para ter acesso às imagens .

Os detalhes da agressão
As imagens, obtidas pela reportagem, mostram o professor Vitor Barbosa aplicando uma rasteira no garoto Guilherme, jogando-o no chão e segurando-o pelo pescoço, após uma confusão com colegas durante a aula. Segundo relatos, o aluno, que tem Transtorno do Espectro Autista (TEA), irritou-se ao ser impedido de usar uma bola para exercícios e chutou o objeto, desencadeando uma discussão com outras crianças. A defesa do professor alega que a ação foi uma “técnica de imobilização” para conter agressões, mas a mãe rebate: “Meu filho foi tratado como um criminoso, não como uma criança que precisava de apoio” .

Falhas no processo de inclusão
A escola suspendeu Guilherme por dois dias, acusando-o de desrespeito ao professor e agressão a colegas — medida criticada por Joyce, que só conseguiu uma reunião com a coordenação cinco dias após o ocorrido. A demora no acesso às imagens, liberadas apenas em março de 2025 durante uma audiência judicial, agravou o trauma familiar. “Meu braço formigou, meu rosto tremeu, e eu fui parar no hospital”, desabafou a mãe, que retirou o filho da escola e agora o ensina em casa devido às crises de ansiedade e autolesão do menino .

Casos semelhantes pelo Brasil
O problema não é isolado. No Distrito Federal, um professor de Ceilândia ameaçou “quebrar no meio” um aluno autista após imobilizá-lo com força e pisar em sua barriga, segundo relatos da família . Em Matão (SP), uma professora e duas funcionárias foram exoneradas em 2022 por agredirem um menino de 9 anos com TEA por mais de 20 minutos, incluindo tapas, imobilizações violentas e xingamentos .

Impacto psicológico e respostas legais
Lucelmo Lacerda, doutor em educação, alerta que violências contra crianças autistas podem levar a depressão, ansiedade e queda no desempenho acadêmico . Em resposta a casos como esses, tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 4249/23, que inclui agressões a alunos com deficiência ou transtornos neurológicos entre os crimes de tortura, com penas de 2 a 8 anos de reclusão .

Exemplos de acolhimento
Enquanto isso, escolas como a Municipal Rubens Berardo, no Complexo do Alemão (RJ), servem de modelo ao oferecer acompanhantes especializados e planos de ensino individualizados. “Aqui ela está sendo amada e acolhida”, diz Rafaela, mãe de uma aluna não verbal .


O caso de Guilherme expõe a urgência de capacitação docente e fiscalização das leis de inclusão, como a que garante acompanhantes em sala para crianças autistas. Enquanto a Justiça apura as responsabilidades do professor Vitor Barbosa, a sociedade questiona: quantos vídeos como esse ainda precisarão viralizar para que a educação inclusiva saia do papel?


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