Paraná

A perseguição política e racial contra Renato Freitas: Novas tentativas de cassação levantam debate sobre Curitiba e liderança negra

Curitiba, com seus mais de 300 anos de história, presenciou em 2022 um marco inédito e controverso: a primeira cassação de um vereador, Renato Freitas (PT). O jovem político negro e combativo, conhecido por sua atuação em defesa dos direitos humanos, foi forçado a deixar o cargo de vereador sob acusações de quebra de decoro parlamentar, após participar de um ato antirracista na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos.

​No entanto, a batalha de Freitas contra o que especialistas e apoiadores classificam como perseguição política e racista está longe de terminar. Mesmo após a Justiça, incluindo decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), anular as sessões de cassação e garantir seu retorno à Câmara Municipal, pavimentando sua eleição posterior como Deputado Estadual, novas e contínuas tentativas de retirar seu mandato mostram o quão despreparada Curitiba e, agora, o Paraná, parecem estar para lidar com uma liderança negra, jovem e incisiva.

​🚨 Recentes pedidos de cassação na Assembleia Legislativa do Paraná

​A mais recente onda de processos de cassação contra Renato Freitas surge no final de 2025, desta vez na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep). As solicitações vieram após um vídeo viralizado em que o parlamentar se envolveu em uma briga de rua no centro de Curitiba, tendo o nariz fraturado.

  • O Contexto da Briga: A defesa de Freitas e o Partido dos Trabalhadores (PT) afirmam que o deputado foi vítima de agressão e injúria racial, tendo revidado após ter sido provocado e agredido. Novas imagens e controvérsias sobre quem iniciou o confronto se seguiram, com o deputado alegando inclusive que um veículo tentou atropelá-lo e que foi alvo de ofensas racistas.
  • A Reação Política: Rapidamente, a Alep recebeu quatro pedidos de cassação (e depois o número subiu para oito denúncias) do mandato de Freitas por quebra de decoro parlamentar, que foram encaminhados ao Conselho de Ética.
  • O Histórico do Medo Político: Há uma avaliação interna na Alep, segundo fontes, de que os processos podem resultar em “pizza”, uma vez que há falta de disposição para assumir um desgaste político tão próximo das convenções partidárias. O histórico da Câmara de Curitiba, onde a cassação acabou revertida e impulsionou Freitas para a Assembleia, serve como um alerta.

​🎯 A pauta racial em destaque e o impacto internacional

​A perseguição a Renato Freitas não é apenas um caso isolado da política paranaense. A situação atraiu atenção internacional, como reportado pelo jornal britânico The Guardian, destacando a dificuldade de Curitiba em aceitar um líder negro e combativo.

​Em entrevista anterior, o próprio Freitas expressou o que muitos especialistas apontam: “É mais fácil você se tornar presidente do Brasil do que prefeito de Curitiba, porque o país não é tão hostil para alguém como eu igual essa cidade é”. Essa fala, repercutida globalmente, coloca em xeque a imagem de Curitiba como uma cidade progressista, expondo o racismo estrutural que parece motivar as incessantes tentativas de silenciamento.

​A cassação original, em 2022, ocorreu após Freitas e manifestantes entrarem na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos durante um protesto contra a morte do congolês Moïse Kabagambe, vítima de espancamento no Rio de Janeiro. A acusação de “perturbação de culto” foi veementemente rechaçada pela defesa e, posteriormente, anulada pela Justiça, que reconheceu a motivação política e, segundo a desembargadora Maria Aparecida Blanco do Tribunal de Justiça do Paraná, a “sanha punitivista e racista” contra ele.

​⚖️ O futuro da perseguição

​Atualmente, o mandato de Renato Freitas na Alep está sob análise do Conselho de Ética e Decoro, que deve emitir um parecer em breve. Se o deputado for punido com a perda de mandato por quebra de decoro, ele pode ficar inelegível por oito anos, o que o tiraria da disputa nas eleições de 2026.

​As contínuas investidas contra Freitas, sejam elas na Câmara Municipal ou na Assembleia Legislativa, reforçam a tese de que o embate político se transcende, tornando-se uma resistência do establishment contra a ascensão de vozes progressistas e, em especial, negras, que desafiam o status quo de uma das capitais mais brancas do país.

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